Quinta-feira, 28 de Março de 2013

Na política podemos (e em certa medida é compreensível) ter Homens como exemplos. Normalmente vislumbramos nessas pessoas a expressão concreta do nosso pensamento político ou, pelo menos, de algumas das ideias que entendemos serem fundamentais para a vida coletiva.

Muitas vezes neste processo mitificamos indivíduos, elevando-os à perfeição por representarem o nosso ideal político. E é mesmo por a política, como a vida, ser um mar de complexidade e imperfeição que inconscientemente traçamos a nossa rota com base num farol, ideal por certo, mas num farol. Esse farol não é, no entanto, a maior parte das vezes uma pessoa. São ideias… personificadas.

 

O regresso de José Sócrates à vida pública pode ser entendido nestes termos. E é, por isso, legítimo que muitas pessoas vejam nele a personificação de muitas das suas próprias ideias políticas. O que me causa algum constrangimento é essas pessoas terem a profunda convicção que são de esquerda, que são simpatizantes ou militantes de um partido progressista e que é José Sócrates quem corporiza todo esse património ideológico. Não é. Nem nunca poderá ser.

 

Eu não digo que Sócrates seja de direita. Mas também não é um progressista. A sociedade ideal de Sócrates é uma nebulosa que estive 6 anos a tentar descortinar. Sem um alvo, ainda que seja um alvo em constante movimento, é impossível esperar algo coerente para o atingir. E muito menos atingi-lo, ainda que parcialmente. Nesse sentido, Sócrates confirmou Guterres como feroz pragmático, prontos a seguir os ventos de uma História que supostamente tinha acabado.

 

É por isso que estranho que hoje, ao mesmo tempo que vários sectores sociais discutem novas formas de intervenção política, que pessoas de esquerda regressam à política ativa, que análises sociais macro-históricas se adensam, que um (ainda incipiente, é certo) discurso de alternativa ao atual capitalismo encontra eco, o Partido Socialista esteja encantado com José Sócrates. Talvez a minha estranheza esteja deslocada, talvez este partido não seja para socialistas. Talvez um dia. Talvez.

 

 

PS: Agradeço aos restantes autores o convite para escrever neste espaço. Uivarei o melhor que posso e sei, “[s]e a tanto me ajudar o engenho e arte”.

 

 

Géricault - Le Radeau de la Méduse (1819)


publicado por Pedro Silveira às 16:37 | link do post | comentar

Terça-feira, 26 de Março de 2013

Nenhum regime sobrevive ao desencanto e às frustrações de toda uma Juventude em fúria. A melhor maneira de preparar alterações e mudanças políticas será sempre a de contrariar e atacar os sonhos da Juventude. Este texto é pouco poético, e não entende o seu autor ser a Juventude uma entidade abstracta de cariz heróico e revolucionário que existe como um todo para salvar o mundo dos seus tiranos e fazer a sociedade entrar numa senda de progresso e evolução social imparáveis. Pelo contrário. Os jovens são, na maior parte das vezes, os primeiros a trairem as responsabilidades a que os seus sonhos e projectos os obrigavam um tempo antes. Antes de ser preciso violar consciências para ter a certeza que a vida correrá bem. Ora, os tempos em que vivemos são proveitosos para quem dorme bem sem escrúpulos e consciência. Eis o motivo pelo qual vemos as grandes fortunas crescerem desmesuradamente enquanto o resto inteiro da sociedade empobrece infalivelmente e os cidadãos viram-se uns contra os ouros.

 

Numa democracia em ruínas, ou o que nos restam delas, alienada como um património colectivo passível de saldar dívida pública, as armas que nos restam deixam de ser o voto e a palavra ordeira e entramos numa euforia de raiva e mágoa que faz o cidadão comum querer atacar inclusivamente as poucas instituições capazes de nos salvarem da barbárie capitalista. O discurso pode parecer cheirar a mofo. Cheira efectivamente. Cheira porque convencidos de um modelo capaz de nos levar a todos para um patamar de bem estar sem retorno, prescindimos dos nossos valores e da vigilância devida a quem se deveria lembrar persistentemente que não há dados adquiridos nos avanços civilizacionais. Já não basta falar de República e dos seus valores a dirigir a administração dos bens públicos, é preciso resgatar um vocabulário neo-marxista a lembrar aos mais descrentes que se não estamos a falar de luta de classes estamos a falar de classes em luta ou prontas para isso.

 

Já não basta queixarmo-nos do discurso economicista capitalista a apropriar-se do discurso político, como aquelas plantas aquíferas que contaminam ecosistemas inteiros ou como as mimosas, espécies invasoras, que carcomem e destroem os habitats saudáveis e equilibrados de outrora. É preciso que as nossas ideias tomem o poder. Tomar o poder significa apropriarmo-nos do discurso dominante, desconstruí-lo ou simplesmente destruí-lo e organizar um poder soberano das ideias. O poder das ideias, como proclamou Isahia Berlin, que a par de Raymond Aron, ambos pensadores de uma direita honesta e útil, ajudaram a construir o nosso sonho durante décadas. 

 

É preciso pois restabelecer a democracia por inteiro e não uma de fachada, a mais perigosa de todas. É preciso identificar os inimigos e não ter medo da guerra, pois é ela que forma os espíritos. É preciso não ter medo, sobretudo, da acção indisciplinada mas disciplinadora do poder e do seu exercício. Voltemos atrás e sejamos os homens que combatem. Desçamos dos montes e das serras e das colinas e armados com palavras, explodamos em harmonia pela reorganização das instituições. Não basta evocarmos o espírito da carbonária, é preciso que todos os que se sintam livres para isso a incorporem.

 

Todos os poderes, mesmo os democrático, tentam criar cidadãos ordeiros e pacíficos. Fazem-nos acreditar que é errado e injusto insurgirmo-nos fora das urnas de voto. Acontece que como seres políticos que somos não nos cansamos de ser homens na cidade. Somos espíritos livres mas pacíficos, e não procuramos o conflito nunca. Como agora, ficamos à espera que ele venha ter conosco. No fim, vencemos sempre, pois ao canalha dizemos: 'os velhos tiranos de há mil anos, morrem como tu'.

 



publicado por José António Borges às 16:04 | link do post | comentar

Mirando a cidade selva

De selvagens e humanos

Está a silhueta do lobo

Revelada às luzes da noite.

 

Mira e agita-se.

Reage por instinto

Às leis da injustiça

Dos selvagens na cidade selva.

Agita-se ofegante

Em angústia sibilina

Incapaz da contenção

Na reacção ancestral,

Confundida com sobrevivência,

Apurada pela vivência.

Agita-se e age.

Transbordando de força,

Incapaz de conter o uivo

Que ecoa e prolonga

Pela noite, até à cidade.

Sossegando a força,

Acalmando a alma.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 01:44 | link do post | comentar

Sábado, 23 de Março de 2013

 

O tribunal cível de Lisboa aceitou a providência cautelar do movimento «Revolução Branca» o que, por agora, impede Fernando Seara de se candidatar à Câmara Municipal de Lisboa.

A notícia já tem uns dias, mas a sua actualidade e pertinência no panorama político nacional manter-se-ão, previsivelmente nos próximos meses.

 

Se há algo fácil de afirmar, lançado para o ar como uma daquelas tão estranhas e entranhadas certezas e verdades inabaláveis do senso comum, é que os juristas, esses seres de outro mundo com linguagem própria e que se formam para contornar as leis que eles próprios pensam, só complicam!

É que só complicam!

Não sabem escrever um código, um diploma ou o raio de um mero artigozinho (daqueles mesmo pequeninos e meios invisíveis que apenas têm a diminuta função de proclamar direitos) em linguagem de gente. Assim para o óbvio, sem margem para dúvidas. Porque o mundo em que vivemos só se constrói com certezas. Com fundações de fortes materiais como o terreno típico do Estado da Flórida, mas, ora, são certezas.

 

Quis o infortúnio e a minha pobre cabeça que os meus estudos enveredassem pelo Direito, vulgo “culto diabólico”.

Se antes olhava um qualquer diploma ou norma legal como uma tremenda confusão ou quando perceptível «óbvio, mais que óbvio!»; agora dou por mim contaminada!

Pois, sim, contaminada! Não é que uma simples palavra no sítio errado, uma mera expressão, entre outras artimanhas podem causar dúvidas catastróficas?

São os malucos dos juristas! Vão aprender Direito e saem com mais dúvidas do que antes.

 

Será que estamos perante um sistema mirabolante e, que se complica a realidade numa ânsia desenfreada por elitismo bacoco e distorcido?

Será que a realidade, as situações da vida humana e social são tão vastas e complexas que só uma mente "predizente" poderia alguma vez estruturar sem contratempos toda uma máquina de pesos e contrapesos?

 

As palavras valem o que valem. Estão escritas, inertes ao tempo.

Há valores que as enformam muito superiores. E a palavra depois de compilada foge ao seu dono, atinge voos nunca pensados ou apaga-se, simplesmente, na obscuridade da não aplicação.

Logo assim, sem dó nem piedade, um aspirante a jurista aprende de sobressalto os trâmites da interpretação. As ambiguidades deste procedimento. As brincadeiras traiçoeiras de uma linguagem que não chega para exprimir todos os fenómenos.

Sim, é verdade, não há erro nem “dois pesos e duas medidas” se num caso o resultado é A e noutro é B. Há diferentes ponderações das várias componentes de avaliação.

 

Aos corajosos que chegaram aqui deixo-vos um “presente”, uma centelha de luz no meio da confusão.

 

Um objectivo: renovação nas instituições democráticas locais. Não há pessoas insubstituíveis. Aliás, o culto exacerbado da personalidade pode fazer prosperar no curto prazo, mas com condições nefastas na realização saudável de uma sociedade e Democracia que vão para além da duração da vida humana.

Um meio: uma Lei que limita os mandatos dos Presidentes de Câmaras Municipais e de Juntas de Freguesias a 3. Com tanto debate, tantos estudos, tantas ponderações e constatações públicas. Foi há pouco tempo, mas o tempo só engana no que convém.

Interpretação: porque não são todos os problemas da vida e jurídicos tão fáceis, com os elementos todos tão recentes, com o espírito ainda fresco e a pairar por cima de nós?

 

Parabéns tribuna cível de Lisboa.

Veremos as cenas dos próximos episódios.

 

«O espírito de quem fez a Lei é claro» e eu acrescentaria sem qualquer pudor a esta citação: “e eu tenho ainda mais gozo em ir contra ele!”.

 

 



publicado por Catarina Castanheira às 00:57 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sexta-feira, 22 de Março de 2013

 

A democracia formal não é baseada apenas em eleições e liberdade de expressão. Envolve todo um conjunto de instituições e práticas que reflectem a ideologia dominante, as ideias hegemónicas e a sua linguagem. Neste sentido, a comunicação social é por excelência um dos seus veículos. Não há como negar o papel fulcral dos media na emanação de poder e na formação da opinião pública, especialmente a televisão. A superestrutura também é feita pelos comentários de domingo à noite.

A contratação de José Sócrates para um comentário semanal na RTP levantou inúmeras questões. Várias com raízes partidárias, demagógicas e populistas camufladas de indignação como se os meus impostos também não pagassem o salário de Dias Loureiro, conselheiro económico do Governo, ou também não fosse dado tempo de antena a antigos governantes que deixaram saudades apenas ao seu círculo de companheiros e companheiras. Da minha parte preocupa-me o critério da representatividade que não tem transposição dos votos para o pequeno ecrã. O arco da governação continua o opinion-making habitual sem qualquer respeito pelos eleitores e eleitoras dos restantes partidos, aspecto facilmente visível em período de campanha eleitoral. 

As disputas por este aparelho ideológico ocorrem no centro e à direita, o espectro do poder económico, financeiro e político. A esquerda está sub-representada e limitada na sua capacidade de influenciar o sentido do voto e a consciência daqueles que participam politicamente. Continuaremos a ser atingidos verbalmente por conceitos como capital humano, os mercados ou o crescimento negativo da economia na boca de Camilo Lourenço, Marcelo Rebelo de Sousa e outros sem que da nossa parte possa haver resposta. A saída de Alfredo Barroso da Sic Notícias foi disso exemplo. 

A democracia é do povo, segundo dizem. Este deveria então sentir-se representado politicamente nos canais que formam a nossa opinião política e, consequentemente, a nossa idiossincrasia. Em vez disso assistimos a uma marginalização dos pequenos partidos e a uma tentativa de silenciamento dos que pretendem contrariar, pela via contra-hegemónica, as ideias que apoiam o modelo socioeconómico vigente.

 

 

 



 



publicado por Frederico Aleixo às 20:22 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Confesso que não percebo toda a comoção com o retorno de José Sócrates à vida pública nacional como comentador político. Não é só pela óbvia razão de toda a gente poder dar a sua opinião, que esse direito não está só reservado a membros do Governo em cerimónias públicas, nem sequer só porque acho que ele é das pessoas mais qualificadas para falar sobre o país e a governação, mas porque acho efectivamente positivo que uma pessoa como o Sócrates dê o seu contributo na nossa vida pública.

           

Compreendo, mas nunca acompanhei, o raciocínio de que alguém que sai da liderança de uma organização (ou de um país) deve abandonar a vida pública. Aliás, nem sequer compreendo a lógica que se instalou de um líder que perde eleições ter de sair da liderança, Soares não o fez e muito outros honrosos exemplos existem, maioritariamente anteriores a esta nossa sociedade ‘de consumo imediato’, mas isso é uma outra discussão.

 

Acho também que a manutenção na vida pública dos ex-líderes é uma coisa positiva, permite pôr os seus conhecimentos e a sua experiência ao serviço da Sociedade. Independentemente de se gostar ou não deles, são pessoas em quem um número significativo dos meus concidadãos confiou e a quem concedeu legitimidade, isso significa alguma coisa. Permite também uma outra coisa fundamental, que eles sejam avaliados e obrigados a enfrentar as consequências das suas decisões. Tudo isto é ainda mais relevante no momento em que enfrentamos a maior crise (que é tanto moral, como social e económica) de que algum de nós tem memória.

 

Nesta conjuntura, e existindo uma narrativa da actual maioria para toda a nossa crise que põe exclusivamente as culpas de tudo o que nos está a acontecer numa única governação e numa única pessoa, é positivo que Sócrates venha a terreiro apresentar os seus argumentos. Todos deviam estar contentes com isto. Aqueles que acham que ele é o grande culpado devem estar contentes por ele voltar para assumir as suas responsabilidades e dizer de sua justiça (porque não pode não comentar a realidade e a realidade envolve-o directamente). Todos os outros devem desejar isto porque não mais será possível à actual maioria, impunemente e sem contraditório, justificar tudo com a retórica simplista da culpa do anterior Primeiro-ministro.

 

 

 



publicado por Gonçalo Clemente Silva às 02:23 | link do post | comentar

Quinta-feira, 21 de Março de 2013

«A finalidade do Partido Socialista é libertar os portugueses de todas as formas de exploração e de todas as formas de opressão. Por isso defendemos a liberdade e a justiça. E sabemos que a liberdade e a justiça não podem ser separadas.

Sabemos que onde há opressão económica o homem não pode ser livre.

Por isso queremos que o direito à propriedade privada seja limitado pela moral e pelo bem comum. Não podemos permitir formas de propriedade opressoras e exploradoras.

Por isso o Partido Socialista apoia todas as nacionalizações que sejam necessárias à construção de uma sociedade socialista. Porque não queremos o capitalismo. Queremos uma economia construída de acordo com as necessidades dos homens e não uma economia constituída de acordo com as necessidades do lucro. Queremos uma indústria ao serviço do homem e não um homem ao serviço da indústria. Queremos a máquina ao serviço do homem e não o homem ao serviço da máquina.

Queremos que a indústria não explore os homens. Queremos também que a indústria não destrua a terra me que estamos.

Sabemos que a indústria capitalista na sua ânsia de lucro envenena os rios, destrói o ambiente.»

 

 

Parte de um discurso dito por Sophia de Mello Breyner, como deputada à Assembleia Constituinte, em 1975.

 

 

Sessão inaugural da Assembleia Constituinte, em 2 de Junho de 1975 - foto de Fernando Baião (CFP/AFL)



publicado por Gabriel Carvalho às 12:40 | link do post | comentar

Segunda-feira, 18 de Março de 2013

Em Wall Street, na rua da bolsa norte-americana, existe uma escultura de um touro. Supomos que seja o mesmo touro que rapta a Europa de tempos em tempos e a priva de si própria. E quem estará a raptar o espírito europeu e a coesão europeia senão essa figura bruta do touro a significar o jogo económico e monetário da especulação e do lucro imoral? Mas este não é o mesmo manso boi coloquial do O'Neill. É um touro que leva tudo à frente, porque se raptou a Europa pode muito bem arrastar países inteiros nos seus cornos. É de uma força mágica, e não o travaremos a não ser que façamos uma gigante pega europeia enquanto pomos forcados no governo, que estes cavaleiros de pacotilha, que montam burros de carga (i.e., nós) não se importam com as marradas que levamos.

 



publicado por José António Borges às 03:45 | link do post | comentar

Sexta-feira, 15 de Março de 2013

     Projecções do desemprego, naturalmente, revistas em alta, dívida pública histórica, recessão em mais do dobro do valor projectado há 3 meses atrás, prolongamento de prazos para o cumprimento do programa que, à partida, nos destina um inevitável incumprimento. A tudo isto, somamos uma fantasia normativa de soberania. E, claro, a indigência intelectual dos nossos eleitos. Sobre este último, e perdoai-me a falta de racionalidade para enquadrar determinadas condutas políticas em algum género de linha de pensamento, prefiro a poética insolência, quero dizer-vos: até posso aguentar estar no desemprego, condição sine qua non, segundo Pedro, para quem viveu acima das suas possibilidades (o famoso ajustamento de que fala é o acerto de contas com os portugueses), aquilo que não poderei aguentar mais tempo é a rendição do Governo português ao coloquial gado externo.

     Desta vez, o destacado Príncipe do gado coloquial Vítor Gaspar, nos seus mansos modos, assume o falso génio que o habita e a inalienável impreparação que o esgota. Para quem pensar que demitir o Governo é irresponsável e que a voz popular nas ruas vale muito pouco, desengane-se. O próprio Vítor pediu a demissão esta manhã e, para nosso regozijo, ofereceu-nos as razões que sustentam tal pedido: incompetência e fanatismo.

     Diz-me um ou outro amigo da área da psicologia que, normalmente, a resistência na assunção de culpas é o primeiro e mais árduo passo para o reconhecimento da necessidade de tratamento. Vítor já o fez. Estou contente por ele. E por nós.

 



publicado por quandooslobosuivam às 14:35 | link do post | comentar

Quinta-feira, 14 de Março de 2013

Agora que o mediatismo papal está finalmente a terminar, e o rebanho de almas sem pastor, já tem quem seguir, resta saber o que amanhã dirá Vítor Gaspar, que é nem mais nem menos a triste realidade, para católicos e não católicos portugueses.

 

A coisa promete: o governo construiu a narrativa de que a sétima avaliação estava demoradíssima (afinal só demorou mais um dia que a mais longa), tanto que o ministro Gaspar nem conseguiu ir ao Conselho de Ministros, algo talvez menos necessário, uma vez que os seus poderes foram reforçados. Fosse ele um super-herói como o Superman, o Spiderman ou um dos Fantásticos, e estaríamos nós descansados. Em parte foi mais ou menos assim apresentado com o seu fantástico currículo. Porém a triste realidade, com ou sem papa, é que o super-ministro não é um super-homem, pelos vistos mal sabe fazer contas, e amanhã as nossas opções talvez estejam circunscritas a mais austeridade, apesar de diferida no tempo, na fantástica quantidade anual de um, e no máximo dois, e ardilosamente denominadas de refundação do Estado. Só benesses, claro está, pelo extraordinário trabalho deste governo, que mansinho e submisso acede a tudo o que Merkel, BCE, FMI e os deuses Mercados acham por conveniente. Para si claro.

 

Contar com o Presidente da República, só de vez em quando, que o senhor trabalha muito, várias horas por dia e até ao fim-de-semana, concentrado que está em corrigir textos e preposições. Estejamos descansados que o senhor ouviu a monumental vaia na monumental manifestação de 2 de Março, apesar dos muros e paredes que o separam da realidade, e ouviu simplesmente pois foi bastante ruidosa. Apesar também, do tamanho das manifestações, do desemprego, do desmoronamento do Estado, da crescente conflitualidade social instigada pelo governo e seus apaniguados, da crescente pobreza, o Presidente da República vai dizendo que o governo faz o que pode, não fossem um para o outro o sustento do poder de um e outro.

 

De maturidade, apenas a resposta da sociedade, patente na mobilização intergeracional e interclassista, que pondera esse movimento e demonstra espírito pacífico, apesar da violência sobre si exercida, consciente da força libertadora da sua responsabilidade, sinal do que verdadeiramente pretende. Quem pensa que se trata de uma massa amorfa, um conjunto de interesses individuais, incompreensão em relação aos papéis representativos do Estado, engana-se. É a cidadania, é a Democracia.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 23:33 | link do post | comentar

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