Segunda-feira, 28 de Abril de 2014

Este 25 de Abril foi especial, não tanto pela dimensão das comemorações oficiais desenvolvidas pelo governo, tornadas em mais um instrumento de serviço do plano que pretende implementar, mas antes, pela dimensão da mobilização popular para as comemorações não oficiais. Nelas se comemorou, e não se evocou apenas. No Largo do Carmo, em Lisboa, de onde hà 40 anos saiu Marcelo Caetano para o desterro merecido, assistiu-se à mais significativa das comemorações da Revolução dos Cravos. Sob um mar de gente, Vasco Lourenço discursou, lançando um manifesto das exigências que o verdadeiro e amplo consenso nacional defende:

 

«Passados 40 anos depois da madrugada que deu origem a “o dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/e livres habitamos a substância do tempo” qual o tempo que hoje nos é dado?

Cada dia que passa, assistimos à destruição do positivo que foi construído, em resultado da acção libertadora de há 40 anos!

O país está vendido, em grande parte e a pataco, ao estrangeiro!

A emigração de muitos portugueses consuma-se, levando consigo muito do saber e da capacidade indispensáveis à desejada recuperação de Portugal!

Os roubos permanentes a que os portugueses são sujeitos, da parte dos que deviam protegê-los e prover pelo seu bem-estar estão a destruir a esperança no futuro!

A ausência de uma justiça igual para todos provoca o descrédito do que deveria ser um Estado de Direito!

Os detentores do poder assumem-se, cada vez mais, como herdeiros dos vencidos em 25 de Abril de 1974!

As desigualdades, consumadas no aumento do enriquecimento dos que já têm tudo e no cada vez maior empobrecimento dos mais desfavorecidos, transforma a nossa sociedade num barril de pólvora que apenas será sustentável numa nova ditadura opressiva, com o desaparecimento das mais elementares liberdades.

O medo, pelo futuro, cada vez mais, propaga-se em variados sectores da sociedade!

Como há já alguns anos, manifestamos a nossa indignação face aos acontecimentos que se estão vivendo em Portugal e configuram, sem a menor dúvida, um enorme e muito grave descrédito dos representantes políticos, um logro à confiança dos cidadãos e um desprestígio para o nosso País.

A Democracia baseia-se num pacto social, onde os cidadãos elegem os que consideram os mais indicados para gerir os assuntos públicos e para os representar durante um período de tempo previamente acordado.

A Democracia não é, nem pode ser jamais, a concessão a uns quantos de uma patente de pilhagem para se enriquecerem durante quatro anos ou mais!

A Democracia tem o seu fundamento na confiança que os representados têm nos seus representantes e na lealdade destes perante quem os elegeu.

Quando essa confiança é traída e essa lealdade desaparece, o prestígio e a legitimidade moral da classe política desmoronam-se e o cimento da Democracia apodrece.

Tudo isto tem-se agravado, cada ano que passa.

Porque continuamos a considerar que a antecâmara do totalitarismo surge quando num Estado de Direito a classe política perde o seu prestígio, porque se transforma numa espécie de casta que deixa de servir os interesses de todos para servir apenas os seus próprios interesses.

E, porque queremos lutar pela manutenção da Democracia, que apenas será viável pela reafirmação dos valores de Abril, proclamamos a imperiosa necessidade de:

 

Assunção de um compromisso nacional na defesa e manutenção do Estado Social que legitimamente satisfaça as necessidades básicas, erradique a pobreza “vergonha de nós todos”, e abra um caminho de esperança e de luz para o sector mais desprotegido da sociedade portuguesa que lhe possibilite o acesso à formação, educação e emprego.

 

Assunção de um compromisso nacional para a promoção de um duradouro programa de educação e investigação científica, para qualificação dos jovens nas áreas fundamentais da globalização.

 

Assunção de um compromisso nacional para a promoção de um programa duradouro do sistema judicial, de forma a tornar a justiça mais célere e mais próxima dos cidadãos, sem descriminação entre pobres e ricos.

 

Assunção de um compromisso nacional duradouro de um programa de emprego agregador e integrador dos vários saberes e competências acumuladas, que incentive o regresso de milhares de “cérebros” forçados à emigração, que incorpore jovens licenciados, agregue adequados programas de formação para jovens que abandonaram os estudos, e para trabalhadores activos que necessitem actualizar e melhorar saberes e competências.


Assunção de um compromisso nacional e duradouro de um programa de desenvolvimento económico sustentável à adopção dos objectivos enunciados para a manutenção do Estado Social e dos programas de educação, justiça e emprego.


O governo e a cobertura que lhe é dada pelo Presidente da República protagonizam os fautores do “estado a que isto chegou” razão pela qual não serão eles a quem possa continuar a confiar-se os destinos de Portugal.

Torna-se, por isso, urgente uma ampla mobilização nacional para sermos capazes de aproveitando as armas da Democracia mostrar aos responsáveis pelo “estado a que isto chegou” um cartão vermelho, que os expulse de campo!

Temos de ser capazes de expulsar os “vendilhões do templo”!

Os desmandos e a tragédia da actual governação não podem continuar!

Igualmente, temos de ser capazes de retornar às Presidências de boa memória de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio!

O 25 de Abril foi libertação e festa, passou por participação e desenvolvimento, mas passou também por retrocesso e desilusão, fruto da corrupção e esbanjamento.

Hoje sofre revanchismo, roubo e destruição.

Que se consubstancia em despudorados ataques à saúde pública, à educação, à segurança social, ao direito ao trabalho, ao direito a uma velhice sossegada, e aponta para o fim das liberdades, da soberania e da democracia.

Temos de ser capazes de ultrapassar os sectarismos, temos de ter a capacidade de, contrariamente ao que normalmente acontece, e reconhecer o inimigo comum, mesmo antes de sermos totalmente derrotados.

Vencendo o conformismo, temos de ser capazes de resistir de novo, reconquistar as utopias, arriscar a rebeldia e renovar a esperança!

Recolocados os valores da madrugada libertadora, nessa altura, vencido o medo, poderemos então retomar a esperança de continuar a construir Abril!


Viva Portugal!


Viva o 25 de Abril!


25 de Abril de Abril de 2014»

 



publicado por Gabriel Carvalho às 20:40 | link do post | comentar

Quarta-feira, 23 de Abril de 2014

A propósito da recente sondagem que coloca Mário Soares como o político português mais respeitado:

 

É um equívoco pensar ou dizer-se que Mário Soares é pai seja do que for. As alterações sociais e políticas que promoveu, acompanhado por tantos igualmente merecedores de crédito, são hoje propriedade do povo português e não de um qualquer partido. E essa é a condição essencial de qualquer verdadeiro patriota: construir e entregar às futuras gerações do país. Quem pensa o contrário tem a necessidade de reclamar um voto já entregue há 40 anos. Porque apodreceu na medida em que Mário Soares se eternizou.

 



publicado por Rui Moreira às 12:19 | link do post | comentar

Sábado, 19 de Abril de 2014

     O Partido Socialista envergonha-me. Com algumas excepções em matéria de opção política e de alguns camaradas, naturalmente, resta pouco a respirar dentro do partido.
     Vai longe quem opera caciques, quem acha que o certo é o reproduzido pelas estrelas do circuito da carne assada, quem vota contra iniciativas parlamentares que, mais do que necessárias, são higiénicas e se impõem. É isto o PS: uma estrada para eleições familiares, para comer, beber e discursar nas concelhias, para um cargo público com almofada privada. Quem pensar o contrário está enganado.
     Lamento que uma instituição que deu esperança, terra para andar e projectos a Portugal se tenha transformado nisto.
     Quem se dedica ao pensamento dentro do PS caiu em tal desuso e até inutilidade por não andar a acenar para o vazio, que só me resta capitular e desejar felicidades a todos aqueles que politicamente combati durante os últimos anos. O vosso sucesso será o enterro definitivo desse grande partido, que o foi e é, e permitirá ao país libertar-se das abjectas amarras que lhe foram decretando. A vocês, bons alunos, socialistas de paixão, homens e mulheres de passado e história, como facilmente se percebe passados dois minutos de conversa, actuais e futuros dirigentes e presidentes da probidade, desejo uma longa jornada. Encontramo-nos mais à frente, no momento da denúncia, quando os vossos actos reproduzirem fielmente os mesmos resultados deste Governo. Não vos admireis, o partido é outro, mas a escola é a mesma.



publicado por Rui Moreira às 00:09 | link do post | comentar

Terça-feira, 15 de Abril de 2014

O regime apresentou-se na Gulbenkian para uma sessão laudatória, de elogio aos seus responsáveis. Será que entre um discurso e outro, aquele que teve uma educação ao bom nível da escola do Estado Novo, Durão Barroso, perguntou a Cavaco (e a Passos Coelho), se queriam que dissesse o que sabe sobre o BPN e ainda não disse?

 

As presidenciais estão a cerca de 2 anos de distância, mas Barroso, entretanto desempregado, já demonstrou que é possível fazer-se tudo para conseguir um bom lugar, dentro do regime.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 12:33 | link do post | comentar

Sexta-feira, 11 de Abril de 2014

Em tempos deu gosto ouvir Assunção Esteves falar da "liberdade que se faz instituição", discorrer sobre a razão das instituições, o pensamento da luzes. Ouvir, em tempos, falar de luzes e de razão provocou algum contentamento, quando pensar e filosofar é uma necessidade urgente, ainda mais quando sobretudo a razão vai rareando. Por estes dias perde-se a razão, talvez pela excessiva reflexão do sentido de liberdade e da Democracia. Talvez Assunção Esteves, a Presidente da Assembleia da República, que recusou a intervenção da Associação 25 de Abril nas comemorações (ou evocações como alguns vêm tratando) do Dia da Liberdade, venha refletindo sobre estes assuntos nos últimos dias, e esteja esgotada com tanto reflexão, e em três ou quatro palavras perca a razão.

 

Pode parecer anacrónico, mas vai restando pouco de Abril, seja na Democracia social apoucada e cortada, seja em decorrência desta, na Democracia política, ou no comportamento dos nossos representantes governamentais que exigem que louvemos a possibilidade de podermos pensar e expressar, como fez Barreto Xavier, Secretário de Estado da Cultura, na entrega do prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Vai restando pouco de Abril. Entre uma ou outra personalidade, um ou outro minguado direito, resta-nos a memória viva de Abril, de quem o fez; resta-nos o ponto de ordem dos militares de Abril; resta-nos a representação da consciência do passado, dando a palavra para o futuro, e que agora não toma a palavra.

 

Não é um problema deles, dr.ª Assunção Esteves, é um problema nosso, da comunidade, e também seu, que foi eleita, e assim tão mal nos representa.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 12:34 | link do post | comentar

Segunda-feira, 7 de Abril de 2014

     Nesta excelente reportagem realizada pelo Jornal Público, Conceição Matos e Domingos Abrantes contam-nos os detalhes de uma vida de amor, entrega, resistência, combate e perdão.

     Nas celebrações dos 40 anos da Revolução dos Cravos, a memória histórica tenderá a ser recuperada e readquirida por nós. Este relato integrará, invariavelmente, essa liturgia narrativa de Abril que nos será exposta e da qual guardaremos saudade por não a termos vivido nós próprios. E não é apenas por um sentimento de ausência ou privação de determinadas vivências que aqui trago esta referência. Apercebi-me que um dos poucos ajustes de contas que o Governo não conseguirá levar a cabo é aquele que atenta contra o memorialismo. E reescrevê-lo, decerto uma intenção, não será fácil.

 

 

 

Vincent van Gogh, 1889.



publicado por Rui Moreira às 18:48 | link do post | comentar

Terça-feira, 1 de Abril de 2014

A 9 de Outubro de 2011, o Partido Socialista Francês organizou as suas primeiras eleições primárias, tendo em vista a eleição do candidato à Presidência da República. Militantes e simpatizantes acorreram massivamente às urnas, oferecendo a François Hollande e a Martine Aubry a hipótese de disputarem a segunda volta. Com 5,63% dos votos (aproximadamente 150 mil), Manuel Valls, nascido na Catalunha e conotado com a ala direita do partido, posicionou-se como o quinto candidato mais votado (apenas à frente do presidente do Partido Radical de Esquerda, Jean-Michel Baylet).

 

A 25 de Novembro de 2012, foi a vez do Partido Democrático Italiano, conjuntamente com o Partido Sinistra Ecologia e Libertà e com o Partido Socialista Italiano, adoptar o modelo de eleições primárias abertas a simpatizantes. Neste caso, o objectivo passava por eleger o candidato a Primeiro-Ministro, que disputaria o sufrágio nacional três meses depois. Pier Luigi Bersani venceu ambas as voltas que se sucederam, cabendo a Matteo Renzi, então sindaco de Florença, o lugar de segundo candidato mais votado.

 

Após as eleições Presidenciais Francesas de 2012, Manuel Valls foi nomeado ministro do Interior. Ao longo dos últimos dois anos, notabilizou-se pela intransigência assumida em matérias relacionadas com imigração, o que resultou no aparecimento de casos como o de Leonarda Dibrani. As 27 mil expulsões em 2013 e a criação de zonas de segurança especiais em bairros sensíveis levaram a que Manuel Valls aumentasse a sua popularidade em alguns sectores da Esquerda, mas sobretudo elevasse a sua notoriedade no domínio da Direita. Desta feita, a opção de François Hollande, ao escolher Manuel Valls como o substituto de Jean-Marc Ayrault acabou por não ser completamente surpreendente.

 

O percurso de Matteo Renzi desde a derrota no sufrágio interno, embora tenha sido distinto, acabou por ter o mesmo resultado que o de Manuel Valls. Dono de uma ambição desmedida, o ex-sindaco de Florença viria a ser eleito Secretário Nacional do Partido Democrático em Dezembro de 2013, num acto eleitoral novamente aberto a simpatizantes, onde participaram 2.805.775 votantes (Matteo Renzi recolheu 67,55% das preferências). Após tomar posse e com o intuito de “abrir uma nova fase, através de um novo executivo apoiado pela maioria existente”, Matteo Renzi forçou a demissão do seu correligionário Enrico Letta, até então Primeiro-Ministro Italiano, ocupando posteriormente o seu lugar. No seu programa eleitoral não sufragado pelos cidadãos, constavam propostas como a flexibilização dos despedimentos e da contratação, a redução de 10% nos salários pagos pelas grandes empresas, bem como a reforma da lei eleitoral, que procura retirar poder ao Senado.

 

Mais do que dois candidatos unidos pela participação (e pela consequente derrota) nas primeiras eleições primárias dos partidos de centro-esquerda dos seus Países, Matteo Renzi e Manuel Valls assemelham-se na admiração confessa pela Terceira Via. Se o agora Primeiro-Ministro Francês propôs uma alteração do nome do Partido Socialista, para poder defender sem reservas ideológicas o capitalismo e a competitividade empresarial, o actual Primeiro-Ministro Italiano começou o seu percurso na Democracia Cristã e, posteriormente, continuou-o no Partido Popular. Se Manuel Valls, social-liberal assumido, aprecia o legado de Tony Blair, Matteo Renzi é conhecido como o “Tony Blair Italiano”. Jovens, extremamente ambiciosos, com uma carreira política iniciada na administração local, ambos representam o expoente máximo da nova geração europeia de dirigentes de centro-esquerda.

 

Depois da eclosão da crise do subprime, cedo se percebeu que Francis Fukuyama errara ao anunciar o “fim da história”. No início da crise era expectável a emergência de movimentos alternativos, com capacidade para responder aos desequilíbrios provocados pelo liberalismo desenfreado e pelo capitalismo de casino, que tinham transportado as sociedades pós-modernas para esta situação. Passados 6 anos, parece claro que os Socialistas Europeus não conseguiram apresentar um projecto capaz de substituir, de forma profunda, a direcção austeritária que o Velho Continente tem assumido. Ora no SPD, ora no Partido Democrático, ora no Partido Socialista Francês, a Terceira Via volta a assumir um papel de destaque. A derrota da esquerda, caracterizada por Pedro Nuno Santos no congresso de Braga, não terminou em 2008 e parece prolongar-se indefinidamente. Manuel Valls e Matteo Renzi são apenas os rostos mais recentes da alternativa fracassada. Haverá retorno?



publicado por João Moreira de Campos às 22:53 | link do post | comentar

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