Os olhos dos mais atentos repararam na forma como Cavaco manejou, perante Jaime Gama, a Constituição da República Portuguesa. Naquele juramento, a inocência de grande parte dos ouvidos romanceou tal promessa que, fora do Cavaquistão, os pescadores aplaudiam. Porém, os mais atentos e desconfiados pensavam no sadismo que seria, depois daquela cerimónia quase matrimonial, Cavaco tratar aquele documento da mesma forma que os seus discursos de campanhas eleitorais: algemá-los, acorrentá-los e escondê-los (de preferência em algum local escuro). Foi o que Cavaco fez.
Pedro optou por um modus operandi diferente. A sua alienação mental empurrou-o para uma revisão constitucional, acompanhada da narrativa utopista de que essa mesma revisão não é necessária pois o actual documento, ainda que "cristalizado", permite opções políticas como a tributação de pensões (e o fruto pelo Tribunal Constitucional proibido, é para ele o mais apetecido). O génio de Pedro (ou de Laura, não tenho a certeza) força-o ainda a defender uma economia de mercado com salvaguardas de risco para futuros monopólios privados a oferecer à sua gente. Força-o a propagandear pela diminuição e aumento de impostos, força-o a declarar rendimentos anuais brutos superiores a 100.000 € e explicar aos portugueses que também partilha da tristeza de não poder oferecer prendas de Natal aos seus filhos. Pedro orgulha-se de ser Primeiro Ministro sem que ninguém se orgulhe dele.
Estas são as personagens da nossa Democracia eleitas para fazer cumprir um texto fundador. Passam os dias e cresce em mim a certeza de que estamos no bom caminho, aquele que nos aproxima do fim dos mandatos de representação política desta corja.