Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2013

(Por vezes importa discutir só a validade dos comportamentos e não apenas soluções para problemas concretos)

 

Tem sido afirmado, por uma certa historiografia cujo método interpretativo dos factos históricos é dúbio (talvez a historiografia do romance de cordel) que o povo português é um povo de brandos costumes. Que esses 'brandos costumes' são uma forma fatalista de conformação com as coisas. «É assim a vida!» ou «Vai-se andando» ou «O que importa é ter saúdinha», seriam assim frases costumeiras representativas desse maravilhoso ethos português que tanto jeito parece andar a dar agora. A ser assim reduziriamos os portugueses, enquanto entidade colectiva, a um conjunto de alienados mentais entregues ao choro e à lágrima. Não é uma imagem bonita.

 

A verdade é que pelo menos desde a última grande greve geral de 18 de Janeiro de 1934 que não há uma vaga de fundo que seja libertadora ou impositora de uma vontade colectiva. Seja ela qual for. A verdade é que estamos individualmente entregues aos nossos prazer pessoais, achamos que temos muito a perder. A consciência de classe continua a não estar disponível ao cidadão comum. Votar é já um esforço. Reclamar é uma obrigação. Mas fica por aqui.

 

Alguns perguntarão por que motivo não considero eu que essa última grande vaga de mudança aconteceu com o 25 de Abril de 1974. Porque o 25 de Abril não foi uma revolução popular. Foi um golpe de estado feito por alguns militares que depois convidaram os portugueses para uma grande sardinhada de dois anos. E convidaram-nos a todos! Inclusivamente os bufos, que a certa altura fugiram às dezenas de Alcoentre. Enfim, como havia moralidade, comeram todos!

 

Hoje continua a haver moralidade e boa vontade e pão e vinho e tranquilidade e respeitinho e saúdinha e se não for o Benfica é o Porto e o Sporting já voltou a ganhar e os estrangeiros já investem cá e os angolanos até nos estão a ajudar e isto não é o Biafra por isso por que nos queixamos? e este ano vamos crescer se não crescemos este crescemos para o próximo e somos um povo de respeito e de respeitinho. Somos sim senhor.

 

Interiormente continuamos com a mesma vontade de sempre em mudar as coisas. Publicamente admitimo-lo até, mas a coragem foge-nos pelas mãos como a água quando olhamos para o nosso tamanho. E no entando... (sorriso) qualquer decisão e opinião é profundamente política e, consequentemente, moral. No plano das ideias tudo está bem. Para quando tornarmos as decisões e as opiniões moralizadoras? É o momento em que a consciência obriga à acção. E a acção, como é bem sabido, tem muitos caminhos.



publicado por José António Borges às 15:56 | link do post | comentar

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