Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013

     Não sou, por princípio, desfavorável à nacionalização de uma entidade bancária. Recapitalizar a iniciativa privada? Esse é outro assunto.

   A Comissão Europeia aprovou, hoje, a recapitalização do Banif com o objectivo e o argumento de assegurar a "estabilidade financeira" da instituição. Ao que parece, o Estado estará ausente da administração do banco, ao bom estilo filantrópico. Joaquín Almunia (aquele velho social-sindicalista resistente ao franquismo), Vice-Presidente da CE, referiu que "Portugal necessita urgentemente de elaborar um plano de reestruturação aprofundado", o que faz sentido à luz da ausência de administração que herdamos.

     É demagogia barata vir falar-vos do BPN, caso "completamente diferente", como rugiu Luís Amado, destacado "socialista" da frente capitalista que nos governa. Vamos, então, fazer as contas à santa recapitalização do Banif: segundo dados do INE, a população activa em Portugal é, aproximadamente, de 5 milhões de pessoas. A injecção de capital no Banif será de 1100 milhões de euros. Ou seja, cada português activo, através dos seus impostos, pagará este ano cerca de 220 euros para este rancho sem que o nosso Governo, insigne negociador de tratados, determine, exija ou ordene coisa alguma.

     Mas atentemos no discurso do Governo: aquele dos compromissos e sacrifícios. O Governo infligirá penalizações que, apesar de transversais (excluíndo a banca), são também arbitráreas, começando pelos despedimentos que propõe, finalizando na redução do valor de subsídio de desemprego. Tudo isto pela moralização do nosso Estado e dos nossos impostos. Em nome de um esforço nacional, numa missão "histórica e estóica", como Pedro liricamente sublinhou. A verdade é uma: os impostos dos trabalhadores são para alimentar vícios privados, salvaguardas de liquidez para determinadas empresas no mercado livre, que se rege pela concorrência.

      Parece haver crianças sem refeições completas nas escolas e nas suas casas. Provavelmente, ainda ninguém avisou Pedro do sucedido. Governar é priorizar. Se o Banif sobreviver, podemos acusar o Governo Português de negligência perante a morte de quem tem fome?



publicado por Rui Moreira às 20:58 | link do post | comentar

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