Quero apenas deixar-vos algumas palavras sobre as declarações de Arménio Carlos. O conteúdo do discurso do secretário-geral da CGTP referindo-se a Abebe Selassie como o "rei mago escurinho" é profundamente lamentável e merece reprovação, até porque o FMI tem tantas cores quantas aquelas que coloram as notas de dólares e euros. Contudo, tenhamos em atenção os oportunistas que logo aproveitam estas situações para ocupar a agenda e defenestrar a luta anti-troika para fora do círculo mediático sob o pretexto da defesa de um elemento do FMI. Exasperam por desviar as atenções e levar os cidadãos e cidadãs ao esquecimento da grande manifestação dos professores e do clima irrespirável de austeridade. Aliás, os dois primeiros críticos que logo fizeram questão de ressalvar as palavras de Arménio Carlos foram Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Moreira. De repente lembraram-se do racismo em Portugal. Curioso que nenhum dos dois alguma vez tenha opinado sobre a situação dos bairros, a nova lei da imigração ou episódios tenebrosos como o do Kuku.
Reitero que Arménio Carlos deve ser criticado e qualquer sinal de racismo deve ser denunciado. Não devemos é, sob esse pretexto, desviar-nos da realidade ou criar uma nova. O racismo do líder sindical não aquieta aqueles que se recordam do neo-colonialismo e saque de outros povos, características instrínsecas do capitalismo selvagem, dos membros que compõem a Troika e, por conseguinte, dos representantes desta em Portugal.
Os mesmos que exaltaram este episódio à direita estarão recordados da Lei do Retorno, dos centros de detenção que grassam por todo o Ocidente, da agência FRONTEX que persegue imigrantes no limes do continente europeu? Estará Selassie lembrado dos resultados nefastos da política sórdida encetada pelo FMI na Etiópia, ou simplesmente concordará com essa orientação e consequente penúria do seu povo?
Não quero hierarquizar ou escalar níveis de racismo. Prefiro antes denunciar todo o racismo envolvido nesta questão em particular. O teor da palestra de Arménio Carlos foi racista, o FMI e a União Europeia são instituições com políticas de xenofobia extrema e nenhum dos intervenientes deve ser poupado aos apupos. Nem mesmo Selassie.