O inefável Fernando Ulrich, funcionário oficial dos Governos nacionais e transnacionais para a política financeira, desceu do seu palacete intelectual para se comparar aos pobres deste rico país. A primeira pergunta que me ocorre é dirigida a Dante que, certamente, recorrerá a Virgílio para tão embaraçosa questão: há círculo na Divina Comédia para escaldar Ulrich, o Apparatchik?
Todos se lembram do ultimato colectivo em que participou Ulrich? Sim, aquele conjunto de entrevistas que assolaram a opinião pública durante uma semana. Aqueles homens, maiores concorrentes entre si na actividade bancária, pediram em uníssono a intervenção da Troika em Portugal. Ulrich optou por se destacar ao longo dos meses. Começando por abrir as portas do BPI à exploração de trabalhadores, rapidamente ameaçou o Estado de nova vaga nos centros de emprego. Defensor de desvalorizações salariais e de perigosos ajustamentos, Ulrich é a ventoinha de difusão de toda a porcaria que Passos, Portas, Gaspar e a Troika reproduzem. Esta superstrutura que nos governa, sociedade oficial segundo Marx, inverteu as prioridades do Estado Providência e posicionou-se em nome de interesses privados e corporativos. Adoptou um discurso reaccionário, tomou os órgãos decisórios de assalto e lançou um feudo confiscatório sob o país.
Os interesses de Ulrich, o Apparatchik, confundem-se com os da Troika e a banca agradece. Intermediário nas teses sociais do Governo, por falsa modéstia admite o acaso do infortúnio nestes tempos difíceis e quer ser confundido com um sem-abrigo. Sabe que o purgatório, a existir, é posterior à sua conduta profana e está disponível para se desculpar mais tarde por tamanha servidão ao capitalismo. Apela às massas e à sua mansuetude em nome da naturalidade e inevitabilidade da concentração de dinheiros públicos no seu negócio: doce mercado, livre do Estado e da lei, dependente dos nossos bolsos. Ulrich, o Apparatchik, criou o Oitavo Pecado Capital negligenciado por Dante: ser domesticado. Tragam as brasas.