A reflexão sobre o tempo presente e o futuro que os acontecimentos desencadeiam, deveriam impor a sensatez, a governados e governantes. A mesma que leva alguns a lembrar o primado do direito à liberdade de expressão, no caso das interrupções às intervenções de Miguel Relvas, a quem é subtraído esse direito. Esse é um princípio inalienável a qualquer cidadão, estando ou não no exercício de funções públicas, e no caso é um membro de um governo eleito democraticamente.
Mas, e há sempre um mas, como em muitos casos há um se, esse direito entra em conflito com outros direitos, também e por enquanto inalienáveis, e entre eles o direito à manifestação e se quisermos o direito à resistência. Referido (mas não decretado) o Estado de excepção, para legitimar o confisco e retirar direitos de trabalho e à dignidade humana; não sendo proporcionado o direito de voto para a escolha de um novo governo – seguro apenas pela solidariedade que o exercício do poder proporciona ao grupo restrito solidário; e no âmbito dos órgãos que completam o Estado, haver um Tribunal Constitucional em falência, e falida a Presidência da República, resta legitimamente o direito à manifestação popular.
Pensar que a «Gândola, Vila Morena», com todo o seu significado, e as palavras de ordem se dirigem apenas ao “bode expiatório” Miguel Relvas e suas polémicas, é não compreender a dimensão da realidade, e como diz a canção Talkin’ Bout a Revolution, de Tracy Chapman:
Enquanto estão parados nas filas da segurança social
Chorando nos degraus das portas daqueles exércitos de salvação.
Perdendo o tempo nas filas dos desempregados
Sentados ali à espera de uma promoção.
Não sabes?
Que estão a falar de uma revolução?
E soa como um murmúrio.