Falar do Zeca é lembrar um percursor da resistência e o génio da música Coimbrã. Falar do Zeca perante um país amordaçado, é, sobretudo, revisitar a mensagem libertária que nos pode dar uma vitória. E eu quero falar-vos do Zeca em nome da nossa resistência colectiva.
Vivemos em Democracia há 39 anos, mas há 26 que perdemos um dos seus criadores. Talvez importe sabermos o que perdemos para o podermos recuperar. O Zeca, amigo de quem nunca recebi um abraço (exceptuando, por miragem claro, nas longas noites dos belos tascos de Coimbra), não poderia ter sido mais fraterno para comigo: ouvir as suas canções é um abraço suficientemente forte. E pergunto-me: será o Zeca substituível pelas suas canções? Penso que a resposta está dentro de nós. Se cantarmos em vozes isoladas, o Zeca estará longe. Se cantarmos todos juntos, em uníssono, certamente estará próximo. E é aqui, sim, aqui neste ponto, que está a essência do Zeca. Esse sentimento presente no seu esplendor de desvalorização por um estádio moral e ético que nunca quis ocupar é aquele que nos motiva a elevá-lo contra a sua vontade. De quem nunca precisou do paternalismo como característica de afirmação de uma vontade precisamos nós. Que saudade é esta por uma busca de algo maior que nós? Algo que nos transcende como uma explosão, que nos eleva em comunidade ao mais bonito dos sonhos.
Era uma vez o Zeca. Ao contrário de outros, ele continua vivo nas nossas memórias. E o Zeca, hoje, está mais vivo que ontem. Respeitando a última das suas vontades, cantemos: "Ergue-te ó Sol de Verão/ Somos nós os teus cantores".