Sexta-feira, 8 de Março de 2013

Aquando da concepção de um novo ser dá-se a união de dois gâmetas, originando-se uma nova célula que, em regra, possui 23 pares de cromossomas.

É precisamente o vigésimo terceiro par que determina o sexo do indivíduo.
Dois cromossomas x: sexo feminino
Um cromossoma x e um cromossoma y: sexo masculino
Outras combinações ou variações genéticas ou não genéticas: intersexo – categoria socialmente construída ainda fracamente explicada, delimitada e difundida.

O nosso sexo, tal como a cor dos olhos, a cor do cabelo, as características fisionómicas em geral, são meros produtos da biologia.
Quem somos vai muito para além destes aspectos.
Depende da nossa educação, dos estímulos do meio envolvente; «seres ontologicamente inacabados» em constante formação e mutação.
Depende das nossas escolhas, depende das acções de outros; varia sem catalogação possível. Ou, pelo menos, assim deveria ser…

Basta! Desta sociedade fatigada que nos impõe o que sentir, o que ser, como dever agir.
O meu género é meu, o que sou, o que vivencio. E não pode ser agrupado com outros tão diversos géneros, seres, outros tão diversos "sentires", cada um único na sua plena individualidade.

Por isso reclamo, grito, torturo à simples menção da divisão “homem/mulher”.
Mas ela existe.
Basta! Mas é a realidade sociológica palpável e consequente.
E que consequências…
Tantas que a recordação das maiores lutas por uma igualdade plena entre tod@s ainda são festejadas, celebradas e aproveitadas para inventariar o que falta ainda fazer e conseguir.

Dia da Mulher.
“Dia”? “da”? “Mulher”? Oh vida…

Atingiremos um objectivo perdido no tempo (pois não estamos já nós no século XXI do actual calendário imposto?) quando este dia perder sentido por ser tão vulgar, óbvio, natural (como é!) a igualdade de género, seja ele qual for, analisado pelo prisma que se pretender pré-determinar.

Sonho. Quero. Faço. Eu. 
Mas vêem, avaliam, valorizam o que “a” sonha, quer, faz.

Catarina Castanheira é quem sou.
Nunca serei uma mulher com disparidade salarial e no acesso ao emprego face a um homem.
Nunca serei a que está numa lista porque não se consegue preencher as quotas em detrimento de todos os outros que estão porque a sua qualidade assim o dita.
Nunca serei a que tem de saber fazer todas as tarefas “domésticas” sob pena de ser “menos”.
Nunca…
É mesmo preciso a lista toda?

Serei Eu. E se me querem discriminar face a qualquer outro ser, se mereço menos, se consigo menos expliquem-mo racionalmente, justificadamente, como sempre deveria ter sido.

 

Catarina Castanheira

 

«Uivando», de Paula Rego, de 1994.


publicado por quandooslobosuivam às 14:31 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 7 de Março de 2013

A ideia de que a desindustrialização e a tercearização das actividades profissionais haveriam de destruir a classe operária nos países desenvolvidos logrou reduzir algum eleitorado de esquerda em 'benefício' de uma direita liberal, liberalizante, liberalizadora e liberista que ludibriou uma classe média inteira que se imaginava já a crescer rumo a um bem estar material capaz de a afastar de séculos de pobreza. A ideia era «emancipasteis-vos (como se a emancipação das classes trabalhadoras preocupasse a direita) e agora o caminho é vosso! Podereis enriquecer e deixar de acreditar na figura paternalista do Grande Estado Papão para vos conduzir nas vossas vida.» Por estranho que possa parecer a ideia vingou. Mas vingou no sentido em que as pessoas infantilizadas tendem a apoiar quem lhe diz aquilo que elas querem ouvir. A ideia da posição social, do estatuto e da aparência, relembra a velha máxima do Eclesiastes «vaidade, tudo é vaidade», e assim vimos as esquerda continuarem a  desfragmentarem-se e, desavindas entre si, a servir a agenda liberal, liberalizante, liberalizadora e liberista da Direita, que é só uma, una e indivisivel na sua senda por uma política pragmática de destruição dos bens comuns.

 

É então necessário começar por desconstruir este discurso que, como todos os discursos fáceis e pragmáticos, impedem que a maior parte das pessoas se decidam a reflectir algum tempo nas suas opções. Quando Marx exortou os proletários de todo o mundo a unirem-se, o mundo viu nisto um grito de revolta e condução dessa revolta dos espíritos que fez tremer as nações imperialistas. Imagine-se só, um mundo inteiro unido contra a exploração do grande capital. Hoje, letrados que somos, olhamos para esta frase e pensamos que se trata de mais uma teoria da conspiração, mas no fundo todos os novos operários de fato e gravata reconhecem o seu sonho de se tornarem eles próprios esse capitalista condutor dos negócios humanos. É uma espécie de desejo reprimido: todos querem ser ricos e, na aparência, todos o são já, pois o seu jeito aprumado e vaidoso de se dirigirem para os seus lugares de trabalho é já uma fase avançada (pensam eles) da sua ascensão profissional. Do alto da sua juventude, arrogante e altiva, pensam que nada lhes faltará, pois o capital é o seu senhor e tudo lhes será providenciado. Novas formas de religião.

 

Mas imaginemos agora que eramos capazes de destruir este retórica semiótica (a elegância não é senão a eloquência da forma) e era aprovada uma lei que obrigava todos os consultores, todos os estagiários, todos os advogados, todos os técnicos administrativos e superiores da administração pública ou do sector privado a trocar o seu belo costume Zara (para os em início de carreira) ou Georgio Armani (para os outros) por um fato macaco igual aos dos trabalhadores das oficinas ou das fábricas que permanecem, quais aldeias gaulesas, no nosso país. Melhor, que as pessoas haveriam de vestir-se consoante o salário auferido (em virtude de ser perceptível aos olhos de toda a gente a composição do tecido social em virtude dos rendimentos de cada um). Naturalmente que mais de metade das pessoas que vestem fato e gravata haveriam de ver-se a vestir da mesma maneira que um operário fabril do Vale do Ave, embora o primeiro julgue que vive muito melhor que o segundo.

 

Claro que esta ideia, parecendo uniformizadora, é só colocada do ponto de vista hipotético, mas não deixaria de ser um exercício útil para todos aqueles que andam a deixar-se embalar pela cançoneta da direita, que grita de uma maneira muito dissimulada «Individuos de todo o mundo, separai-vos, sózinhos ides muito mais longe». 

 

Só mais um pequeno exercício. Há cem anos atrás uma lavadeira de Alfama se saísse do seu bairro haveria de ver os 'senhores' vestidos ricamente, e era capaz de os identificar e de compreender-se a si própria, de uma maneira muito específica, em confronto com a caleche do ministro, a cartola do advogado ou as mangas do bancário. Hoje em dia vamos todos para a Praia da Falésia, em Vilamoura, de calçãozinho de banho chique ou a imitar bem o chique e estendemos a nossa toalhinha no areal. Ao nosso lado um homem na casa dos seus cinquenta anos faz o mesmo. Parece que tem uns calções iguais aos nossos e a toalha é normalíssima. Podiamos ser nós daqui a uns anos. Podiamos, mas aquele homem é só o tipo que especula divida pública portuguesa em mercado secundário.

Pois é, uma vez ouvi o Eng. José Sócrates dizer que nós, os socialistas (falta saber se eram os verdadeiros ou não) não somos pelo igualitarismo. Tem razão, este igualitarismo da forma tapa-nos a razão e é apenas mais uma forma de dissimular a verdade com a aparência, à qual somos todos vulneráveis. Porque se se via o orgulho de Diógnes pelos buracos do seu manto, não se vê a gula e a avareza de um banqueiro pelas suas havaianas.



publicado por José António Borges às 17:11 | link do post | comentar

Quarta-feira, 6 de Março de 2013


A minha leitura diária da informação ontem foi abalada pelas palavras concomitantes da ofegante e triste respiração do vice-presidente e agora presidente interino da República Bolivariana da Venezuela: Nicolás Maduro. A notícia, essa era previsível apesar daquele recôndito espaço de esperança que guardamos sempre na alma. Aquela réstia libertária perante o casulo da inevitável enfermidade. Morreu Hugo Chávez Frías, a figura que personalizou o bolivarianismo socialista, a ânsia de liberdade e independência, assim como a justiça social. Um projecto novo a dar os primeiros passos como uma criança. Uma criança que sofreu quedas e se levantou novamente. Como uma criança também se magoou. Mas assim como uma criança, mantinha o entusiasmo e fazia progressos inolvidáveis durante o seu crescimento.


Esta penosa notícia marcou o mundo. Levantaram-se os adeptos fervorosos do chavismo e os críticos cegos. Pelo meio os observadores objectivos da realidade venezuelana foram distinguindo o que de bom e mau foi realizado. Da esquerda à direita haverá uma panóplia de razões para criticar o regime venezuelano. Eu próprio procuro fazê-las no sentido em que devemos duvidar de tudo como apontava Marx. Não era um regime de consensos, era um regime político e em política nunca será desenhado um paradigma de governação inerte e imune.

O retrato que quanto a mim melhor resume os anos em que vigorou o projecto socialista de Chávez é o Golpe de Estado ocorrido a 11 de Abril de 2002. Todos os seus intervenientes são como que tipos-sociais vicentinos, neste caso venezuelanos. De um lado temos o grande patronato que se esconde na oposição e procurou reagir à política de redistribuição da riqueza do petróleo, assim como às políticas sociais que incluíram entrada de capital do Estado em sectores económicos que afrontavam os grandes empresários como a banca ou o comércio a retalho alimentar. A própria reforma agrária contrariou muitos interesses instalados. Estes foram os autores do Golpe, fazendo uso dos meios de comunicação privada e de uns quantos militares oposicionistas. Do seu lado estavam a Espanha e os Estados Unidos da América, potências que viram os seus privilégios económicos na região serem combatidos. Em defesa da Constituição Bolivariana estava a camada pobre, a maior diga-se, da venezuela que usufruiu dos progressos proporcionados pelas missões sociais e os investimentos na educação e na saúde. Uma população que finalmente se viu livre de uma lista interminável de governantes que não souberam aproveitar o beneplácito eleitoral para dirigir um país de acordo com os seus programas sufragados. Os apoiantes de Chávez juntamente com os militares que o apoiavam fizeram questão de resgatar o Presidente e reelegê-lo sucessivamente.

Todavia, a espada de Bolívar não se limitou a desferir golpes contra a oligarquia interna. Também no plano internacional foram dados passos suficientemente importantes no caminho da contra-hegemonia diante de um sistema internacional ameaçado de unipolaridade estadunidense apoiada pelas potências ocidentais. Neste sentido, Hugo Chávez desenhou uma política multi-lateral que, no complicado jogo de xadrez externo, procurava unir as potências consideradas ameaçadoras para o governo americano, apesar das diferenças ideológicas. Por outro lado foi determinante para principiar um projecto de comunidade política sul-americana. Neste âmbito se criou a ALBA, comunidade de países bolivarianos da América e avançaram projectos nos mais variados domínios como a TeleSur, enquanto permanece o diálogo sobre um hipotético Banco do Sul.

Chávez foi um líder em tempos de indigência mundial. Um líder num mundo de lideranças medíocres e pouco imaginativas. Um líder que personalizou excessivamente o seu regime, podendo Nicolás Maduro pagar caro essa herança. Fortaleceu demasiado os poderes a si conferidos lançando névoa sobre a separação de poderes e independência da Justiça. Porém, reduziu assimetrias, ligou povos e recebeu amor dos que acreditaram no seu projecto político. O autor da doutrina do Socialismo século XXI, Heinz Dieterich, lançou críticas pela estaticidade e os poucos avanços em direcção a uma política com princípios anti-capitalistas. São críticas legítimas e dignas de reflexão pela esquerda, sem dúvida. Mas deixo a questão: o mundo seria o mesmo sem Hugo Chávez? O mundo do subprime, do neocolonialismo, dos interesses do capitalismo financeiro, dos saques a juros hediondos e da depradação dos direitos sociais e económicos conquistados duramente pelos trabalhadores e trabalhadoras. Tenho a certeza que a História dará uma resposta e fará a sua justiça. 

 

 



publicado por Frederico Aleixo às 20:01 | link do post | comentar

Domingo, 3 de Março de 2013
Adoptando as palavras do grande Miguel de Unamuno, «pelo tempo que eu viva viverá em mim a visão» de uma larga praça cheia, cantando valente e novamente, a «Grândola, vila morena». Um laço de comunidade, como se todos estivessem de mãos dadas, sem as reservas de classes e condição, o canto colectivo, no tom mais elevado a que a agressão obriga, e naquela praça se expande e ecoa ao longe num murmúrio que desperta a consciência. Um murmúrio tornado grito violento nos ouvidos de um governo que não respeita o seu povo.

 

Os números apenas são matéria dos que pensam controlar, no reduto da sua insignificância.

 

Sob o signo da poesia, saiu uma vez mais à rua uma sociedade, consciente da razão histórica antiga e presente, a azinheira que já não sabia a sua idade. Dispondo das armas do corpo (A Terceira Miséria, Hélia Correia), que são a voz e o pensamento, age sabendo quem mais ordena. Sob o signo da poesia, um poema:

 

Grandolando sem cessar,
Empunhando na voz firme
A justa palavra certa,
Certeira arma aberta
Na direcção daqueles,
A quem é preciso lembrar,
Do povo que guardando
Não mais esquece,
Ter fundeada no peito
A razão de grandolar.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 22:22 | link do post | comentar | ver comentários (1)

decretai-lhes à insânia os murais de um deus menor

travai estes errantes, ó feudos do pensar

ditem tirania dívida putrefacção e dor

lavai até seus uivos com amarras no fundo deste mar

 

melodia subversiva entre punhos cerrados

uníssono metálico de revolta na forja

julgai esta ofensiva matilha de profanos

lembrai-lhes respeito e servidão à corja

 

dai-lhes côdea água e bafiento pedaço

e nunca, nunca os deixeis lembrar

que entre eles não faz tempo ou espaço 

apenas sangue e alma a germinar

 

uma casta sem silêncio ou medo

de quem nada tem e tudo sangrou

a maré de revolta o grito do penedo

"Irmãos, unidos!", e ecoou...

 

 

*Poema da minha autoria e fotografia da Ana Mendes.



publicado por Rui Moreira às 00:50 | link do post | comentar

Sábado, 2 de Março de 2013

 

            Hoje eu estive na manifestação, estive presencialmente em Castelo Branco, minha terra, onde centenas de Albicastrenses mostraram a sua profunda revolta com esta política. Mas estive em espírito e em solidariedade com todos os outros, em todo o país e no estrangeiro, que se manifestaram contra esta política e o (não) futuro que nos pretendem impor.

 

            A grande diferença desta manifestação, como o Ricardo Costa acabou de dizer na SIC, é que as pessoas não se manifestaram por uma razão concreta e palpável, como a 15 de Setembro. As pessoas manifestaram-se por uma miríade de razões, cada um com as suas, mas genericamente contra tudo o que se está a passar. Provavelmente muitos dos que se manifestaram não concordam comigo em muitas coisas, têm outras visões de como sair desta situação (como muitas pessoas que tive oportunidade de ver hoje, amigos, que sei que têm visões profundamente diferentes da minha), mas todos nós estamos unidos na rejeição desta solução.

 

            Irão acusar-nos de ser uma manifestação negativa, de não termos soluções ou alternativas para apresentar. A nossa resposta é simples, inspirada em José Régio: Podemos não saber por onde vamos! Podemos não saber para onde vamos! Sabemos que não vamos por aí!

 

 



publicado por Gonçalo Clemente Silva às 20:31 | link do post | comentar

Chegam heróis e jovens de mãos dadas.

Chegam rapazes loiros como o estio

E partem as palavras censuradas

No penacho de fumo do navio.

 

Em que a aventura nos embosca o cio

Chegam esperanças, medos e ciladas

E partem as angústias, exiladas,

No penacho de fumo do navio.

 

Ao ritmo dos guindastes estremecemos.

Portos abertos ao que nos deslumbra,

Barcos chamando o sexo com um grito!

 

Piratas da abordagem que trazemos

A rebentar nas veias: que se cumpra

Nosso destino esplêndido e maldito!

 

José Carlos Ary dos Santos, in "A Liturgia do Sangue"

 



publicado por Rui Moreira às 14:12 | link do post | comentar

Sexta-feira, 1 de Março de 2013

             Ainda sobre as eleições Italianas, e continuando o raciocínio começado no post anterior, não se pode deixar de olhar para as reacções dos ‘mercados’ e tentar percebê-las, uma vez que, caso já nos tenhamos colectivamente esquecido, tudo isto começou por dificuldades de financiamento a juros razoáveis nos ditos (não, isto não começou com o défice, isso foi a razão que nos apontaram para não nos conseguirmos financiar, não foi o problema em si).

 

             Como era esperado, a primeira reacção dos mercados foi claramente negativa, com subidas generalizadas dos juros da dívida pública. Felizmente esta situação inverteu-se rapidamente, não sem antes obrigar a Itália a financiar-se a juros mais elevados do que tinha feito anteriormente, com as ‘reconfortantes’ declarações dos responsáveis europeus de que, independentemente das opiniões dos eleitores, a austeridade é para manter e o BCE continuará a fazer tudo o que for necessário para impedir novos resgates. Para aqueles que ainda não tenham percebido espero que se torne agora claro que a capacidade dos países do ‘sul’ se financiarem depende fundamentalmente daquilo que a Europa disser e o BCE se dispuser a fazer e não do que quer que esteja a ser feito em cada um dos países. Se assim não fosse, sem governo nem perspectivas de estabilidade política, haveria poucas razões para os investidores manterem as condições de financiamento da dívida pública Italiana até haver uma clarificação.

 

            No entanto é assumido por todos que o empenho europeu, e as garantias do BCE, apenas se irão manter se continuarem a ser cumpridas as condições exigidas, nomeadamente a austeridade. Acontece que a austeridade contém, em si mesma, as sementes da sua própria destruição (tão marxistas que estamos). Já era razoavelmente óbvio, para todos quantos tenham meio dedo de testa, que a austeridade, como forma de corrigir desequilíbrios orçamentais em contexto de contracção económica, se derrota a si própria pela destruição da economia interna. Agora torna-se também relativamente evidente que ela destrói as condições de estabilidade política mínimas para o funcionamento normal de um país, pelo menos nos moldes que conhecemos desde a Segunda Grande Guerra.

 

            Não se trata só da destruição do consenso social e político sobre o nosso modelo de Estado, nem sequer da profunda alteração da correlação de forças entre as várias forças políticas. Trata-se de o actual contexto estar a criar as condições para a subida ao poder, ou pelo menos a conquista de uma importante influência política, de grupos que, mesmo em circunstâncias normais, iriam provocar receios nos mercados financeiros e possivelmente restrições de financiamento. Ou seja, a austeridade em nome da confiança dos mercados cria exactamente as circunstâncias políticas que afectam seriamente essa confiança. Isto a acrescentar à significativa deterioração da nossa capacidade objectiva de pagar a dívida devido à hecatombe económica que estamos a viver.

 

            Não será possível, pelos menos em contextos de normalidade democrática, a manutenção deste estado de coisas por muito tempo. A única forma razoável de sair desta situação passa, como já há muito é defendido, por uma solução europeia. Só uma alteração a nível Europeu, que coloque a prioridade na superação dos problemas económicos e no fim da austeridade, pode evitar uma espiral que não será só de recessão económica, mas também de desordem social e política.

 

            Infelizmente o próximo orçamento europeu é a pior notícia que poderíamos ter. Quando é fundamental responder ao maior desafio que a Europa já enfrentou é reduzido, pela primeira vez, o orçamento comunitário. Resta-nos esperar que a Europa consiga, in extremis como sempre desde o início desta crise, inverter as suas posições e fazer aquilo que disse sempre que não faria, em nome da manutenção do projecto Europeu. Se isso não acontecer temo bem que a austeridade se destrua a si própria e, de caminho, nos destrua a nós e aos nossos Direitos, Liberdades e Garantias.



publicado por Gonçalo Clemente Silva às 23:24 | link do post | comentar

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