Sexta-feira, 28 de Junho de 2013

A História ensina-nos muitas coisas e uma delas é que ela nunca se repete. Por estes dias muitos vencidos de 1975 saltaram para a arena política. Aparte os comunistas, que nunca a abandonaram verdadeiramente, estes sectores de esquerda radical vêm recauchutados e podem, na verdade, trazer um interessante (e importante) debate acerca das grandes opções da nossa polis. Não é necessário ler Gramsci para perceber que isto terá necessariamente impacto na formatação do pensamento individual e da discussão coletiva.  

 

Mas até estes sectores de pensamento e/ou de ação perceberam que, tal como o mundo, a exigência propositiva das pessoas mudou e que o radicalismo em (verdadeira) Democracia exige outro tipo de abordagem. Possivelmente deriva daí a dificuldade em articular esse tipo de abordagem, corporizada por enquanto apenas por um punhado de intelectuais.

 

A esquerda progressista encontra-se hoje numa encruzilhada. Mas esta encruzilhada não assenta na escolha entre opções definidas e estruturadas. Assenta entre a escolha da construção de uma nova opção e a continuação da lenta agonia ideológica a que nos submetemos. Este situacionismo militante de muitos “socialistas” não nos trouxe até aqui mas deixou-nos sem armas na mão quando mais necessitávamos delas. Seria, no entanto, um erro trágico apanhar a primeira arma que nos caia no colo. Em suma, pessoalmente estou disposto a ir para a luta… mas não com uma Kalashnikov. 

 

 

Francesco Lojacono - Country Road



publicado por Pedro Silveira às 17:16 | link do post | comentar

Sábado, 22 de Junho de 2013

 

Os povos começam a despertar de acordo com os acontecimentos que têm ocorrido na Turquia e no Brasil, principalmente. As manifestações multiplicam-se um pouco por todo o mundo e as reivindicações acabam sempre, umas vezes mais frontalmente que outras, por esbarrar no paradigma económico dominante e vigente um pouco por todo o mundo. Se em Instambul um protesto contra a especulação imobiliária reflectida no empreendimento a ser efectuado na Praça Taksim acabou por arremessar outras questões de foro económico e social; no Brasil a exigência de uma redução no preço da tarifa de autocarro também inverteu a agenda política e conseguiu introduzir a temática dos serviços públicos e do investimento nos sectores da educação e saúde no discurso de Dilma. Mas se os cidadãos e cidadãs acordaram freneticamente, os regimes contra os quais se rebelaram nunca adormeceram. Pelo contrário, os seus mecanismos repressivos têm vindo a fortalecer-se. Na verdade, os dispositivos de segurança pública interna são os últimos bastiões de resistência da cúpula. As forças de segurança que deveriam primar pela defesa da lei são inúmeras vezes manietadas para oprimir e esmagar qualquer foco de instabilidade. Em vários países é possível assistir a uma tentativa de alterar as regras do jogo, deturpar a separação de poderes e criar um clima de perseguição em nome da ordem social.

 

No Brasil não passou incólume a hipotética aprovação do PEC 37 que inclusivamente foi adiada devido à voz das ruas. Uma proposta de emenda à Constituição brasileira que permitiria entregar o monopólio das investigações criminais à polícia, retirando qualquer poder ao Ministério Público nesse campo. Se juntarmos a este facto a violência das forças policiais nos confrontos com os manifestantes, tendo resultado em vários feridos e dois mortos até ao momento, verificamos o perigo que esta proposta poderá representar. A própria Dilma deixou impune a acção perpetrada pela polícia nas ruas na sua declaração ao país, atribuindo o ónus da culpa a uns poucos "vândalos".

 

A situação turca foi bastante mais visível e explícita.  O recurso a torturas e detenções arbitrárias para não falar no uso de armas químicas alertou o mundo para os limites da democracia turca no ponto de vista de Erdogan. Para já as manifestações foram proibidas na Praça Taksim e as responsabilidades da escalada de tensão entre as forças envolvidas foram atribuídas à imprensa internacional e às redes sociais. O próprio primeiro-ministro turco já afirmou que tenciona censurar sites como o facebook e o twitter. Como sempre o papel de criminoso foi reservados para aqueles e aquelas que quiseram fazer valer o seu ponto de vista sobre a situação vivida no país.

 

Em terras portuguesas não devemos esmorecer com qualquer tentativa de desincentivar a exteriorização da nossa insatisfação. A maneira como a Troika e os seus capatazes chantageiam os cidadãos e cidadãs com o medo que é alimentado pela precarização laboral ou perda de direitos sociais e económicos ou com a ameaça de legislar de forma a condiciar as várias formas de luta deve, pelo contrário, trazer a população à rua. O Governo tem receio do que aí vem e providenciou o aumento da verba orçamental do Ministério da Administração Interna, as multas avultadas para a prática de graffitis ou a criação de uma comissão instaladora que em 2012 ficou responsável pela instalação de um Centro Nacional de Cibersegurança. Mas não é o povo que deve temê-lo, é o governo que deve temer-nos.

 

 

 



publicado por Frederico Aleixo às 19:06 | link do post | comentar

Terça-feira, 18 de Junho de 2013

 

A imagem é a do Palácio Nereu Ramos em Brasília, sede do Congresso Nacional, construído na simbólica Praça dos Três Poderes, ocupados por manifestantes na última noite, em luta contra o prejuízo nos seus direitos e pelas opções políticas. A imagem impressionará sobretudo os habituais e temporários inquilinos do Palácio, mas não apenas estes. Num mundo global em que sobretudo as imagens correm e difundem-se em segundos, os poderes financeiros, autoritários e autocráticos, e mesmo os mais democráticos, sentem por momentos o medo das situações que controlam, até no Brasil dinâmico, centro do desporto mundial, pujante e em ascensão.

 

Porém, se a imagem é geradora de incomodo e medo, é também geradora de reacção, que invariavelmente se direcciona para o seu controlo, com a maior ou menor demonstração de forças, como continua a acontecer na Praça Taksim em Istambul.

 

Esta é também uma imagem que se junta aquelas da Praça Taksim, ou da Praça Tahrir no Cairo, ou ainda nas manifestações multiplicadas pela Europa e os EUA, resultado das consciências democráticas das populações, da afirmação de direitos, e de uma profunda alteração da ordem internacional em geração. Se o caminho for o do aprofundamento dos direitos e deveres democráticos e de uma economia despojada e depurada dos mecanismos do capitalismo selvagem e da desregulamentação dos mercados, tanto melhor.

 

Por cá, e no contexto do surgimento dos movimentos que lutam pelo afirmação do ser cidadão, e enquanto centro da acção política, num percurso de emancipação do cidadão e da cidadania, não há como não fazer um paralelo entre a ocupação da cobertura do Palácio do Congresso Nacional brasileiro, e os confrontos pronta e indiscriminadamente resolvidos pela polícia a 14 de Novembro de 2012 nas imediações da Assembleia da República. Por cá, usou-se o medo e a força, contudo do ponto de vista político nada mudou, pelo contrário. E das próximas vezes?



publicado por Gabriel Carvalho às 16:03 | link do post | comentar

Segunda-feira, 17 de Junho de 2013

     O Governo nunca se relacionou de boa fé com os professores. Se o tivesse feito, não apresentaria as insensatas medidas que visam o despedimento colectivo e a destruição de lares através da mobilidade. Se optasse por negociações sérias, teria evitado a difusão de diferentes versões das reuniões na comunicação social. Na defesa dos interesses dos alunos, o Governo devia ter alterado a data do exame. Nada disto fez. Limitou-se a gerir o tempo para descredibilizar os sindicatos e manipular a opinião pública. O Governo preferiu prejudicar os alunos a possibilitar-lhes a realização estável dos seus exames. Mais grave ainda, é ler-se na comunicação social que a corporação dos professores "vive atrelada ao orçamento de estado". É a velha diferença do investimento vs despesa, mas não só; é também uma concepção neofascista. Não gostam de greves nem querem uma população educada. Pois é, as greves obrigaram à subida de salários e à redistribuição, a educação afastou-os do poder. Eles voltam sempre e nós reagiremos sempre.

* Álvaro Cunhal, desenhos.


publicado por Rui Moreira às 18:17 | link do post | comentar

Sexta-feira, 14 de Junho de 2013

 

Assim que reuniu os seus homens, Salgueiro Maia explicou deste modo a razão para o golpe: «Como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos”. Um Estado disfuncional que congregava o pior do que havia sido o Salazarismo com o descontentamento de algumas figuras do regime. A Primavera Marcelista não passara de uma fraude e o carácter persecutório do Estado-Novo não havia esmorecido. A atmosfera era de mudança e soava no ar que a qualquer momento a História faria a sua parte. Ninguém foi feito para sofrer e ser oprimido. Todos ansiamos a liberdade, a verdadeira promessa da política segundo Hannah Arendt.

O Governo a que chegámos recorda-nos um pouco esse anseio. Perante os cortes nas funções do Estado, a redução salarial, os despedimentos, as privatizações de serviços próximos dos cidadãos como é o exemplo dos CTT ou a crescente precarização de todo o tecido laboral é criado um clima de medo próprio de uma democracia frágil e titubeante em que se vive o dia-a-dia sem pensar no dia de amanhã. É a democracia do ensino público crescentemente elitizado e depauperado, da saúde pouco acessível e vista como desperdício de dinheiro público, da segurança social vista como um luxo; em suma, dos direitos adquiridos e não conquistados. 

Mas quem nós pensamos que somos para querermos viver dignamente sem honrar os nossos compromissos? Em primeiro lugar está a nação. Sim essa entidade abstracta que legitimou os constantes atropelos do tempo da Outra Senhora. Mesmo que essa nação esteja subalternizada, de joelhos perante um memorando que ninguém votou ou se manifestou a favor. Se queres fazer greve, eles pensam alterar a lei. És professor ou professora e queres juntar-te, eles impõem serviços mínimos e a requisição civil. O Tribunal Constitucional chumbou o corte de subsídio de férias mas eles não querem devolver. És negro ou negra e moras num bairro? Uma ameaça resolvida com o cano da arma. Ai a nação, a nação, essa entidade que pode inclusive pisar direitos e leis, mesmo a Lei Máxima. Não há lei senão a lei dos mercados.

Observando o país, perguntamo-nos se o Presidente da República pensa zelar pelo regular funcionamento das intituições democráticas. Pelos vistos ele apenas contribui para a sobrecarga de exigências ao sistema político e, nos tempos livres, manda julgar sumariamente quem o manda trabalhar. Talvez não tenha percebido que o estado a que chegámos limita-nos no campo das escolhas, tal como limitava aqueles que viveram os dias de Abril em 1974. 







publicado por Frederico Aleixo às 21:03 | link do post | comentar

Quinta-feira, 13 de Junho de 2013

     «Sou um Aquiliniano. Sou-o em aliança com o rústico, o animal, o verde. Sou-o, em partilha das ruas, casas e pastos».

     Acompanhei com entusiasmo a vaga de artigos sobre Aquilino que se assenhoreou (e muito bem) da comunicação social. Pela altura do cinquentenário da sua morte, muitos deram o seu testemunho acerca deste "mestre esquecido" que lavrou "um Portugal hoje abandonado" ou, assim prefiro, um Portugal das nossas raízes. Por proximidade ou reconhecimento literário, divulgaram algumas histórias das Terras do Demo e dos seus bichos em harmonia com os homens, "terras por onde Deus não passou", outros das suas passagens de Paris a Romarigães. Muito pouco li acerca da obra que dá cunho a este blogue, tornada lendária pela censura e amada na escuridão pelo povo português. Nesse romance, "Quando os Lobos Uivam", reside, na minha opinião, a maior das pedagogias da obra de Aquilino Ribeiro: o instinto de subversão, herdado dos lobos, habitantes dos montes e penedos. O romance de Aquilino trouxe consigo a razão e justeza, por nenhum outro motivo a censura se apoderaria dos seus exemplares. Hoje, na senda de uma quimera de realidades, obriga-nos à emergência de defesa do direito, serviço e património públicos.

     O assalto às civilizações está em marcha. Em palavras de Aquilino, "reina em toda a extensão um domínio feudal". Os cidadãos encontram-se entre a agiotagem internacional e os subornados gestores de sacrifícios. É tempo de Portugal em inho, como escreveu Alegre. Quando derramo raiva ao olhar esta situação lembro, persistentemente, o acontecimento que sobressaltou os indígenas da Serra dos Milhafres. A manifestação contra a ocupação dos baldios por parte do Estado fascista custou a Manuel Louvadeus uns tempos de prisão. Na sua reflexão, Aquilino justifica o ranger dos dentes da população com o direito ancestral que os assistia. Direito esse que nos transporta para os primórdios da constituição das sociedades e nos ajuda a relacionar quem somos e de onde vimos. "O engenheiro silvicultor convidava os nobres amigos para montarias no couto como os reis para as tapadas, onde içava o veado e o cervo. Na serra dos Milhafres faltavam estas espécies venatórias, mas, com o tempo e extensão dos poderes, lá se chegaria. E os povos? Os povos tiritavam encardidos de pobreza e barbárie, incrustados nas suas orlas. Mas que importavam as vicissitudes dos velhos aglomerados e que fossem dignos de lástima os netos dos iberos e turdetanos?" Sobre a ocupação da propriedade dos povos, a moralidade força-nos a inverter o raciocínio de que o capitalismo, de Estado ou corporativo ou feudal, é proprietário de algo; o povo é, por direito, o credor de toda esta malha. Precedendo toda e qualquer política de feudo, é nossa a propriedade de existir, usufruir e produzir. E esta é a essencial pedagogia de compreensão daquilo que somos, legitimadora de uma luta por uma terra sem amos. Como referi, o instinto de subversão e suas características na obra Aquiliniana, obrigam-nos à insurreição em acto cívico. Sendo o exemplo destes serranos paradigmático, talvez possamos repensar algumas questões e reposicionar algumas ideias. No "Eterno Retorno do Fascismo" de Rob Riemen, pode ler-se nas primeiras páginas sobre a manipulação da linguagem numa Democracia de massas. Os Governos têm-no feito ao agrado das suas vontades. Por isso quando nos apelidarem de radicais, seremos patriotas; de irresponsáveis, seremos consequentes. Seremos até superiores porque sabemos que o país nos pertence e que a nossa luta será lei. 



publicado por Rui Moreira às 20:57 | link do post | comentar

Terça-feira, 11 de Junho de 2013

Existe uma velha anedota anti-comunista que refere uma visita de Estaline a um Kolkoze da Rússia profunda. Aí, tudo programado ao milimetro, o líder soviético dá uma palestra sobre a revolução e o progresso do país através da importância das teorias marxistas da economia. No fim, pergunta retoricamente se alguém tem alguma pergunta. Contrariando toda a organização, uma senhora muito idosa pergunta se o comunismo fora inventado por um político ou por um cientista. Estaline responde que fora por um político, ao que a senhora responde: ‘Pois, foi o que eu pensei. É que se tivesse sido por um cientista tinha experimentado primeiro nos animais.’

 

As anedotas e os mitos anti-comunistas ou simplesmente anti-socialistas ou ainda anti-esquerdas, tem facilidade de tornar verdade aquilo que a razão recusaria. Mas é assim com muitas coisas que a direita populista introduziu, desde sempre, no discurso político apolitizado. Nas palavras de Alfredo Barroso, o grande lamaçal, chafurdado abundantemente pelos Carlos Abreu Amorins deste país.

 

O mais engraçado de tudo, e que é ao mesmo tempo trágico, é que a anedota acima descrita se poderia aplicar na íntrega e na perfeição ao momento económico actual em que vivemos. Já não por culpa de qualquer teoria marxista mas do liberalismo experimentalista encetado pela Tatcher e desenvolvido, entre nós, pelos cães roufenhos que latem a verborreia da ‘doença infantil do liberalismo’. Afinal são os liberais capitalistas que se comportam como crianças avarentas e egoistas, como se fossem meninos-soldados armados de poder legislativo, os mais perigosos dos seres já que desprovidos de qualquer formação moral e ética que os impeça de agir contra a humanidade, o próximo, o bem comum ou a sociedade, que aliás, recusam existir.

 

Mas, para dar uma ideia, aliás errada, de que não se tratam de experimentalismos, vem agora dizer que ‘foram cometidos erros na Grécia’, como se tivessem sido meros erros de cálculo de excel ou de análise económica, quando todos sabemos serem erros estruturantes de falta de formação individual, já que o capitalismo selvagem em que nos encontramos prevê exactamente aquilo que está a acontecer com a Grécia e com Portugal. Toda a economia deixada a si mesma é um anarco-capitalismo, já que num vazio regulador ou interventivo do Estado, substituem-se os poderes públicos pelos privados, que confundem pessoas com dinheiro comercializando as primeiras em detrimento da valorização dos segundos.



publicado por José António Borges às 18:22 | link do post | comentar

Sábado, 8 de Junho de 2013

     Que as servidões a que nos prestamos revelem, no seu limite, justiça. Então a morte será gramaticalmente bela.

 



publicado por Rui Moreira às 13:50 | link do post | comentar

Quarta-feira, 5 de Junho de 2013

Número de desempregados colossal, falências, empobrecimento generalizado, exclusão social, crescimento do trabalho mal retribuído e com poucos direitos sociais, retrocessos presentes e futuros na educação e saúde, emigração generalizada de jovens e menos jovens, investimento na formação de pessoas desperdiçado, sonhos liquidados, futuro sem sentido, a esperança a mudar de cor.

 

Incompetência, impreparação, sede de poder, inconsciência e insensibilidade, submissão, ausência de voz, silêncio, divisão, instigação, incultura, má formação, ignorância.

 

Os primeiros são as consequências dos segundos, e aconteceram nos últimos dois anos, contudo, o Governo decide sair à rua com novo discurso, festejando dois anos de governação, brandindo os impropérios europeus do sucesso da nossa desgraça. Com certeza que este não é um hiato na história do país, em que todas as variáveis reproduzam exactamente este espaço temporal, afirmá-lo seria desonesto. Porém, é para todos claro que aqueles são os resultados das opções e da receita que o Governo escolheu, mesmo contra todas as promessas eleitorais e as esperanças dos portugueses.

 

Um primeiro-ministro a chamar piegas ao povo a que pertence e o elegeu, é paradigmático e diz bem da desqualificação moral de que padece. Porventura quereria governar outro povo, à sua imagem auto-reflectiva - não sabendo nós o que vê. Vá então.

 

A (DIS)SOLUÇÃO

Depois da revolta de 17 de Junho

Mandou o secretário da Associação de Escritores

Distribuir panfletos na Stalinalee

Nos quais se podia ler que o Povo

Perdera levianamente a confiança do Governo

E só a poderia reconquistar

Trabalhando a dobrar. Pois não seria

Então mais fácil que o Governo

Dissolvesse o Povo e

Elegesse outro?

 

Bertolt Brecht, Elegias de Buckow.

 



publicado por Gabriel Carvalho às 23:45 | link do post | comentar

 

Devo dizer que não sou um adepto das teorias conspirativas e das especulações na análise política. Prefiro filtrar e concentrar-me nos factos sob pena de cair no campo da extrapolação e desviar-me do essencial e verdadeiramente importante nesta área: os mecanismos que envolvem qualquer processo relacionado e com influência no poder. Neste sentido, não me cabe a mim fazer o papel de Daniel Estulin e procurar desvendar os segredos obscuros do Clube Bilderberg e os seus verdadeiros objectivos nem relacioná-los com António José Seguro. Basta recorrer a fontes oficiais para perceber que estamos a falar de um grupo secreto composto por tudo menos boas companhias e com interesses dúbios.

 

O Clube Bilderberg é mais uma concentração da classe dominante mundial, tal como é o Fórum Mundial de Davos ou a Comissão Trilateral. A sua composição é formada por um comité eleito para quatros anos que escolhe um Chairman, neste caso Henri de Castries, Chairman e CEO do grupo AXA. No comité constam nomes de antigos ou actuais ocupantes de cargos políticos de relevância política ou com assento nas corporações mais poderosas do planeta de que são exemplo Jean-Claude Trichet, antigo presidente do Banco Central Europeu, ou Peter Sutherland, CEO da Goldman Sachs Internacional. Se a estes nomes somarmos os convidados presentes na lista do próximo encontro onde constam nomes como Durão Barroso, o já referido Paulo Portas, Paul M. Achleitner enquanto Presidente do Conselho de Supervisão do Deutsche Bank, J. Michael Evans que exerce o cargo de vice-presidente da Goldman Sachs & Co., ou Timothy Geitner, antigo Secretário do Tesouro americano, então percebemos que este viveiro internacional da finança e da economia não é o melhor espaço para falar do fim dos paraísos fiscais, da taxação sobre as transacções financeiras ou de uma Europa com uma dimensão política e económica mais virada para o crescimento e para o modelo social europeu. Estamos a falar de instituições envolvidas na crise do subprime, de responsáveis europeus apoiantes da austeridade cerrada e de um antigo responsável pelas finanças estadunidenses que não teve sequer a iniciativa de reformar seriamente Wall Street porque havia sido Presidente da Federal Reserve de Nova Iorque e teve quota parte de responsabilidade na bolha especulativa.

 

Estes são os senhores que vão debater temas relacionados com a criação de emprego, dívida e estratégias de crescimento para a Europa. As mesmas personalidades que destruíram inúmeros postos de trabalho, criaram a dívida privada exacerbada socorrida pelos Estados e a política que tem causado o empobrecimento e a miséria de milhões de pessoas. Se António José Seguro aceita reunir-se secretamente com um grupo afecto a esta estratégia opressora sem que partilhe essas informações com as pessoas que supostamente defende, então é conivente com o caminho europeu trilhado até hoje. É que esta elite não merece uma discussão ou uma reunião, merece, isso sim, um combate feroz.

 



publicado por Frederico Aleixo às 16:11 | link do post | comentar

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