Está a ocorreu uma revolução no setor da Educação em Portugal, e o PS (na sua estrutura completa) não tem nada a dizer. Aquele que é porventura o principal pilar do modelo de sociedade a ser defendido pelo socialismo democrático, por ser fator efetivo de promoção da igualdade de oportunidades, com a criação de um setor educativo de elevada qualidade gerido pelo Estado, que permite encurtar a diferença entre ricos e pobres, é o mesmo setor a não ouvir uma palavra na sua defesa concreta, seja num discurso claro e contundente, seja em propostas e respostas claras e contundentes.
As mudanças que se estão a operar, pela mão do Governo PSD/CDS-PP, controlado por ideólogos e teólogos de estatura da pequenês de Crato, ao serviço dos interesses financeiros, económicos e de uma certa elite ignorante, vão da transferência de recursos financeiros do setor público para o privado, a limitação no recrutamento dos professores e obstáculos concretos ao bom ensino no setor público. Isto é ideologia e é uma estratégia deliberada. Sobre isto, não tem o PS uma palavra a dizer.
Ecoará por muitos anos a voz do fantasma Giddens na casa da família socialista, social-democrata e trabalhista europeia. No quarto português tem livre acesso.
Acho que nas actuais condições sociais, se os actores políticos persistirem no caminho que estão a seguir não se podem admirar que surjam e possam ter sucesso movimentos de extrema-direita, ditatoriais e fascistas. E digo mais: se este programa continuar a ser aplicado por esta gente, "eles serão responsáveis" pela subida da extrema-direita, tal como está a acontecer na Grécia e em França.
Vá, acusem-me lá de legitimar a extrema-direita!
Eu desconfio sempre da postura moralista na política. Não sigo o aristotelismo e não acredito que o fim da política seja a liberdade ou a felicidade humanas. Quanto muito será sempre uma liberdade contingente e limitada pelos interesses de uma entidade denominada de Estado. A verdadeira liberdade chegará com a supressão de classes e interesses colectivos antagónicos. Com o fim da política entendida nos termos do paradigma dominante na sua ciência. Até lá, todos temos de sujar as mãos. Umas mais imundas que outras.
Talvez por isso não goste muito de discutir rosas e papoilas. Prefiro cingir-me à matéria objectivamente existente. Não me revejo no completo relativismo dos conceitos de liberdade e esquerda, assim como numa falácia anti-partidária ou apartidária em forma de partido. O que não falta na história são disparidades entre o ideal e o terreno.
Não acredito na defesa do europeísmo a toda a prova. Um europeísmo que nas suas bases está já minado pela desigualdade de relações entre os povos, pela liberalização económica e hierarquia de potências. Por mais voltas que se dê ao argumentário, se Rui Tavares critica a política europeia de forma estrutural, não se percebe porque transitou do GUE/NGL para Os Verdes. Um grupo parlamentar europeu que apoiou o constitucionalismo europeu nos seus moldes actuais, como ficou provado com o suporte dado em relação ao projecto constitucional europeu ou mesmo em relação ao Tratado Orçamental. Para não falar na conivência perante a intervenção da NATO. Onde está a solidariedade entre povos? Não acredito em processos de democratização política que não sejam antecedidos de uma alteração nas relações de produção.
Mas as interrogações prosseguem. Pergunto-me sobre o meio da esquerda. Será o espaço a ocupar entre o PS e o BE? E já alguém se indagou se a esquerda precisa desse espaço ocupado por um partido que se disponha a coligações com o arco da governabilidade? Um género de DIMAR na Grécia e Os Verdes na Alemanha, mesmo que a experiência tenha trazido os seus dissabores? Não deveriam antes os militantes do PS reflectir sobre o percurso da social-democracia e buscar uma mudança interna, tendo em conta os resultado da Terceira Via? Não quero apressar julgamentos, mas a existência de uma muleta pós-eleitoral não me parece contribuir devidamente para um processo de transformação à esquerda.
Assim sendo, preparo-me para mais uma tentativa de medicação paternalista prescrita de acordo com sintomas, ao invés de um diagnóstico da verdadeira patologia social. Continua-se a tratar o socialismo como uma flor, quando este se trata de uma raiz.
Quem tentando traduzir o título deste post enveredar pela sua tradução literal, chegará à questão "como curar um fanático", que é porém um ensaio do israelita Amos Oz, publicado em Portugal pela ASA Edições e o Público em 2007, com o título «Contra o Fanatismo». Neste, Oz, discorre sobre a natureza do fanatismo, através da sua experiência pessoal e vivência social dos extremos do conflito israelo-palestiniano, fenómeno que, conclui, não tem distinção de nacionalidade, de etnia ou raça, ou de crença. O fanatismo é um estado de obsessão profunda, e o fanático alguém que ergue a sua bandeira de forma impositiva e incontrolada.
Vem isto a propósito da verborreia dominical de João César das Neves. Na sua profissão de fé, o economista, antigo assessor de Cavaco Silva, e beato, diz o que alguns não ousam, mas a quem não é possível louvar a coragem: sobre o aumento do salário mínimo pode ouvir-se «é estragar a vida aos pobres»; sobre os reformados e pensões «a maior parte dos pensionistas não são pobres e estão a fingir». Para mim estas palavras dizem tudo sobre a indigência moral e ética do senhor, que a cada passo vive as suas crenças, como no tempo das cruzadas, ou ao jeito de intifadas. Não sendo surpreendentes, já que sistemáticas, vão formando um padrão de pensamento sobre a pobreza e a riqueza, a aquisição e a provação, entre uma pretensa elite.
How to cure a fanatic? No presente caso, porventura através de um cilício, que atue cada vez que profira uma asneira.
Regresso à escrita, profetizando.
Aqui fica uma pequena parte da minha própria narrativa.
«With great power comes great responsibility».
Quantos de nós reconhecem automaticamente esta frase batida e rebatida na saga comercial cinematográfica, e antes nos tão aclamados livros de BD, do "Homem Aranha", pela mão da Marvel Comics e pelas luzes de Sam Raimi.
Esta frase sempre me fez reflectir. É agradável. Tem o seu je ne sais quoi de heróica. Provoca em muitos que a pronunciam e citam um certo "orgulho", tantas e tantas vezes martelado pelo seu reverso.
O Poder traz, portanto, responsabilidades.
É inato ao homo sapiens sapiens o desejo de moldar e, em larga medida, de dominar, nem que tal resulte de uma terrível aparência libertadora e, simultaneamente, castradora, a sua vida, as circunstâncias sociais, políticas e, inclusive, físicas e metafísicas que o rodeiam.
Tudo meritório.
O incentivo à participação dos cidadãos, sobretudo na construção e qualificação da Democracia, quer pelo investimento na sociedade cívica, quer pela sagaz contribuição política ou prima facie em ambas, é algo que tod@s almejamos.
Contudo, há esta apurada "estranha" curiosidade e confronto.
O ser cívico anseia ser ouvido, modelar, que as coisas em geral sigam o que a sua brilhante mente profetiza.
Quando se atinge um patamar de poder ou Poder, estes anseios concretizam-se, mas surge a Responsabilidade. De Pensar, mesmo quando não apetece. De Agir concretamente sob pena de penalizações para o próprio e para os que lidera. De responder por consequências impensáveis. De saber como dizer sim, não e como ser capaz de equilibrar os pratos da balança contra o rumo do tempo.
Não é para tod@s. Tod@s correm atrás do poder, mas muitos, quando vêem próximo, tropeçam, recuam e regressam, num constante jogo de crianças.
Pessoalmente, pressiona-me (e impressiona-me) mais, muito mais, a segunda fase desta narrativa.
A Consciência.
Não, não se trata de um profundo tratado filosófico, paradoxal e "pleonásmico".
Há momentos na vida cívica e política em que a Consciência de se possuir as capacidades, as qualidades, as competências (tri-classificação não ingénua) essenciais, obriga a que se assuma um determinado Poder, sob pena da justa responsabilização pelas consequência do falhanço ou mero incumprimento do bem maior.
São as horas das mais dolorosas reflexões, em que os puros desejos, medos e dificuldades do ente batalham com a "missão" que ele não pediu, que lhe foi imposta.
Imposições conflituam com Liberdade, obviamente. Mas depois de impostas, firmadas e assentes, pese embora a sua natureza controversa e quiçá quase injusta, são novas restrições aos nossos direitos mais essenciais. Sobre a Consciência. Quem decide é a Consciência.
Essa tão peculiar responsabilidade "sem mais" da Consciência.
...
Consciência?!