Rubra CPLP ao rubro,
De machado pontiagudo
De língua oficial Espanhola
E da nota, que compra tudo
Rubra CPLP ao rubro,
Asilo da pena de morte
Onde a rainha finança
Torna Amado príncipe consorte
Rubra CPLP ao rubro,
Da apatia consentida
Onde a anuência de Machete
Cala a gente oprimida
Rubra, da cor do diamante
Em sangue garimpado
Sustentáculo de um regime
Barbaramente consagrado
Sobre a situação na Ucrânia o Partido Comunista Português tem duas coisas a dizer, neste dia de hoje: por um lado a preocupação com o avanço e poder da extrema-direita - repartida por nacionalistas, xenófobos, anti-semitas, racistas e neo-nazis -, preocupação que partilho por inteiro; por outro, o seu característico e persistente anacronismo em relação ao tempo e aos acontecimentos registados na história, que me escuso demonstrar, e que vão da queda do Muro de Berlim ao colapso da União Soviética. Passaram já cerca de 25 anos.
No fundo, o Partido Comunista Português, faz o papel dos filhos do filme «Good Bye, Lenin!» ao tentar ocultar da sua mãe uma mudança revolucionária. Esta, casada com a pátria socialista, fica internada num hospital durante o período que levou à queda do Muro de Berlim e ao fim do sistema comunista na antiga República Democrática Alemã. Na sua escolástica, no seu léxico, guerreiros contra o colonialismo, o imperialismo e o capitalismo do Ocidente, permanecem fiéis defensores do Pacto de Varsóvia, tementes e reverentes à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Com isto não se pense e ridicularize ao ponto de pensar que o Partido Comunista Português não vive no mesmo mundo da informação e comunicação em que todos vivemos, ainda que não o entendamos por exclusão. Como no modelo da velha União Soviética, mas também no mundo da vivência política comunista, a lógica é a de extremar posições: de um lado a extrema direita e com ela o capitalismo, a União Europeia e os EUA, e do outro o velho ideal de Lenine, corporizado no antigo mundo comunista, temporariamente derrotado pelos interesses do grande capital e do imperialismo ocidental. A lógica da oposição à extrema-direita pode parecer perigosa, e é, mas é a única que permite a este partido manter a esperança de ganhar terreno, é a única capaz de subsistir em lógica extremada permitindo-lhe corporizar-se como alternativa.
Há coisas com graça, e tem graça a quantidade e o coro de vozes do partido, que mentalizando-se dizem, cada vez menos em surdina: «gosto do Seguro desde pequenino».
«Muitas das intervenções de figuras proeminentes do PSD confudem o eleitorado que não faz uma distinção muito assinalável entre aquilo que é a mensagem política da direção e dos dirigentes do PSD no ativo daqueles outros que, não tendo essa responsabilidade, ainda assim são figuras do PSD, são imagens do PSD».
«A vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor.»
As afirmações são de Luís Montenegro, deputado e líder parlamentar do PSD, militante do PSD, disse-as na preparação logística do Congresso do PSD a decorrer este fim-de-semana no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Não sei se refletiu acerca do que disse, talvez, mas a sua formação pessoal, política e democrática não lhe permite mais que isso. Irremediavelmente é a imagem do PSD não é mais que isto, esta lamentável indigência (se alguém discordar que o diga).
A vida dos partidos não está a viver os melhores dias, as mudanças da sua organização são urgentes, e o seu papel deve ser preservado, contudo o problema está em ser este partido que diz estas coisas a estar no governo, confundindo o partido com o país e o Estado, desafiando quem destoa dessa sua lógica, com promessas de lugares futuros.
De resto, o papaguear começa dentro de minutos, o espremimento da laranja dará em nada, num verdadeiro inconseguimento.
Purgado do partido e do convívio com alguns dos seus seres. Como quase tudo, haverá certamente um lado positivo.
No fundo, pela cabeça de alguns desses seres do partido já lhes havia passado a extraordinária ferramenta da expulsão perante a opinião contrária e não reverente ao chefe. Os pretextos vão-se graduando, degradando-se. É questão de aguardar a forma da graduação.
O tempo dos partidos não terminou, em boa parte, a sua lógica e organização é que já, e aí, o seu conservadorismo à direita ou à esquerda pode perigosamente levá-los à inutilidade, pela descrença, irrelevância ou algum mecanismo de substituição, já dizia Simone Weil.
De resto, não sei que efeito teve esta expulsão na mente de António Capucho, mas coloco a hipótese de ter sido um acordo mútuo.
Quatro minutos depois da hora marcada, Rui Tavares entra tranquilamente numa sala composta pela metade. Não fossem as presenças, a seu lado, de um jornalista e de um fotógrafo, a sua chegada teria provocado o mesmo tumulto do que a dos que, naquele auditório, aguardavam pelo início da conferência pública “Mudar a política em Portugal e na Europa: o projecto do LIVRE”.
A informalidade protocolar de um partido que se quer livre – num primeiro plano, das amarras que têm aprisionado as diversas Esquerdas – soou, desde logo, ao mais puro dos informalismos. Tal como os jovens que, esperançosamente responderam às condições adversas do pós-Guerra, através da criação de um movimento artístico, nos rostos dos presentes transparece a ideia de esperança que só a liberdade plena pode transportar.
A crença num caminho alternativo à lógica partidária instituída, ainda que silenciosa, transborda num auditório maioritariamente composto pelos filhos dos que heroicamente viveram Abril e que cresceram a enfrentar as agruras provocadas pelo quotidiano pós-moderno. Em surdina, quase que ecoam as letras dos Ornatos Violeta, relembrando que este é um tempo de nascer.
Após confirmar se estão asseguradas as condições necessárias para iniciar a sessão, Marta Loja Neves ocupa o seu lugar na mesa, sendo acompanhada por Rui Tavares e por outros três militantes. Projectada na tela que se encontra sobre o palco, a bandeira do Centro Democrático Federal 15 de Novembro evoca a temeridade dos que a 31 de Janeiro procuraram implantar a República. À frente dos oradores, o verde cintilante faz com que as garrafas de água assumam inevitavelmente um papel de destaque.
Num partido que se funda nas ideias ecologistas, o plástico fica à porta, cedendo o seu lugar a outros materiais menos prejudiciais ao ambiente. Tal como nas obras informalistas, os símbolos não se resumem à função de meros adornos, carregando em si um forte significado.
Inspirado pelos que naquele sábado de 1891 tentaram derrubar o regime, Rui Tavares começa a sua intervenção, assumindo que no LIVRE existe a consciência de que o insucesso é uma realidade possível. Porém, o eurodeputado afirma que “não há vergonha nenhuma em falhar, há sim em não tentar”. A conferência começa assim com o discurso do elemento mais emblemático deste novel partido da Esquerda Portuguesa e Europeia.
Manifestando que, para si, “a actividade partidária não é uma primeira, uma segunda, ou uma terceira paixão, ao contrário da actividade política”, o ex-membro da tendência Manifesto confessa-se esperançado de que “este possa ser um partido sem um aparelho semelhante ao dos partidos tradicionais”. Entre esta e a intervenção que viria a fazer no final, Rui Tavares procura desmistificar os principais dogmas que pairam nebulosamente sobre esta nova concepção de liberdade.
Aos críticos que apontam o LIVRE como um meio para se manter no Parlamento Europeu, o deputado dos Verdes/Aliança Livre Europeia responde subtilmente, afirmando que o grande problema com que o partido se depara são as eleições Legislativas e não as Europeias, cuja presença no acto eleitoral está dependente da decisão do Tribunal Constitucional.
A todos os que partilham da crença de que este partido subsiste na figura da sua pessoa, Rui Tavares declara que o seu papel ad-hoc para a constituição do LIVRE termina com a chegada do primeiro congresso, sendo que a partir dali será apenas um militante comum.
Aos que consideram a denominação LIVRE como uma afronta descabida ao funcionamento dos partidos já existentes, o ex-membro da tendência Manifesto sublinha que o nome do partido é Liberdade, Esquerda, Europa e Ecologia, de onde resulta a sigla LIVRE. Simultaneamente, demarca-se desta escolha, ressalvando que a opção foi fruto de uma derrota sua, já que preferia que o partido se chamasse “Progressistas”. Nunca relaciona as críticas com o teor do seu discurso, todavia a interligação acaba por ser evidente.
(Este texto continua, num segundo capítulo a publicar brevemente com uma análise crítica sobre o assunto)
Entre as proverbiais frases de Passos Coelho sobre aquilo que ele acha dever ser a vida dos portugueses e alguns dos aforismos de Salazar, poucas diferenças por vezes se encontram. Os conselhos do que deve ser a vida dos outros são diários, e entra por onde certamente pretende que entrem, pelas casas e "as vidas dos outros". Sem recurso a provérbios e aforismos está o consorte de governo, Paulo Portas, de estilo sofisticado consegue fazer a súmula dos filmes que vê e dos livros que lê e é capaz de criar, de ser inventivo. Sobre Portas é isso, e claro está, tudo o resto. Dele sobram afirmações que a cada nova oportunidade desdiz, as estratégias para afastar os opositores, o percurso no Ministério da Defesa, a nova significação da palavra "irrevogável" que passou a ter um sentido diametralmente oposto, as correntes que tornam o partido democrata-cristão em algo plástico e moldável, algo não de cariz popular (rapidamente suplantará o PSD e a sua base de apoio), mas antes de carácter populista, que é aquilo que Paulo Portas verdadeiramente é e representa. Mais do que outro no nosso país, Portas é o populista e o demagogo.
A Espanha e ao congresso do Partido Popular espanhol foi buscar aquilo que o seu ego gosta de soltar, o populismo e a demagogia; o palco no estrangeiro serve para lhe ser elogiada a dimensão internacional; os discursos insuflados servem a fuga aos temas do dia-a-dia e da realidade indisfarçável da vida na Lusitânia, no território que lhe oferece as histórias para as tiradas sobre a independência e o protetorado. Ao contrário de Durão Barroso, que na bancada do PSD na Assembleia da República disse um dia a Guterres que sabia que chegaria a primeiro-ministro, Paulo Portas nunca disse onde quer chegar, nem o fará. A especulação leva-nos a adivinhar que quer chegar longe, ao patamar alcançado pelos populistas.
Há coisas que por familiaridade e cordialidade dizemos na casa de outros. As convicções são só para metade do mundo e uma avé-maria e um padre-nosso expiam os pecados e os maus pensamentos. Familiar e cordial, conhecedor da raiz do PP espanhol, das suas origens, e dos debates que ocorrem em Espanha, agradeceu o palco, de facto, a todos: "por isso, creio que é compreensível uma palavra de reconhecimento a Rajoy, Aznar, Fraga", disse, reconhecido.
Ao que parece António José Seguro disse que vários governos anteriores não cumpriram promessas. Com isto, no entanto, não diz que impreterivelmente cumprirá as suas. Pelo sim, pelo não... não faz nenhuma. Quando tudo estiver a arder ele aparecerá para gerir o incêndio. Se sempre funcionou assim, porque não haveria de funcionar agora?
("The Burning of the Houses of Lords and Commons", J.M.W. Turner, 1835)