Não te preocupes, José Borges. Não são apenas os outros que só tem a perder as suas grilhetas. Bem pregarias tu se fosses como Frei Tomás (faz como ele diz mas não faças como ele faz) e te furtasses a falar tão livremente quanto te aprouvesse. Só a tua consciência te vigia e apenas perante ela deves responder.
Perdoa-me, Senhor, por não haver votado em ti este fim de semana, alargando a tua legitimidade num voto em vinte e cinco mil que acreditam ou são creditados por ti mas que esqueceram tudo o resto. Perdoa-me, Senhor, por não te ter ido reverenciar no Domingo de Manhã, olhando para ti com os olhos marejados de lágrimas enquanto o verbo se tornava carne e a tua palavra descia sobre mim. Perdoa-me, Senhor, se não repito até acreditar 'O Secretário Geral do Partido é o Secretário Geral do Partido é o Secretário Geral do Partido' e isso significa que os socialistas desistiram do país em nome do quê não sei. Perdoa-me senhor por não me ter candidatado contra ti quando todos tinhamos o dever de o fazer. E perdoa os outros, Senhor, os otomanos também, em quem depositamos sempre tantas esperanças, e que pensam 'ainda não é o meu tempo' e que se esquecem que nunca será e que podem é acabar os dias em Bruxelas como prémio de consolação. Não Senhor, deixai-me ser antes eu a absolver-Vos...