Lembram-se do distante dia 5 de Abril, quando foi lido o acórdão do Tribunal Constitucional, em que este órgão declara inconstitucionais algumas normas do Orçamento de Estado para este ano, e em que o Governo perde o que lhe restava de legitimidade? Lembram-se do cheque em branco em forma de curto comunicado do Presidente da República, no final de uma reunião urgente com Passos Coelho e Vítor Gaspar, no dia seguinte, 6 de Abril? Por fim, lembram-se da declaração ao país, de Passos Coelho, reforçado pelos poderes do Presidente, e da forma como tenta por em causa as decisões de outra instituição? Se não se lembram, será importante recordar, até para se perceber, como, uma a uma, as instituições da República vão caindo e desaparecendo.
A última, foi o Conselho de Estado, que apesar das crises social, económica, financeira e política profundas e imparáveis, é convocada a sua reunião para discutir o longínquo ano de 2000 e sabe-se lá, e em que uma vez mais, as expectativas dos cidadãos portugueses (que por cá continuam) saem defraudadas. Não se esperava ver o Presidente Cavaco no papel de Judith segurando a cabeça decapitada do general assírio Holofernes, é demasiado para tão fraca e pequena figura, mas o momento exigiria o resgate da sua função como poder equilibrador, e o resgate do poder de quem legitima as instituições, os cidadãos. Ao que se assistiu, foi a um jogo arrogante, finalizado com uma declaração de resultado nulo, que marcou um momento insignificante. Precisamente o contrário do pretendido das instituições de um sistema político democrático.
Os que lá estão cairão, esperemos ter à altura homens da cidade, que saibam reconstruir o país e as instituições.