Devo dizer que não sou um adepto das teorias conspirativas e das especulações na análise política. Prefiro filtrar e concentrar-me nos factos sob pena de cair no campo da extrapolação e desviar-me do essencial e verdadeiramente importante nesta área: os mecanismos que envolvem qualquer processo relacionado e com influência no poder. Neste sentido, não me cabe a mim fazer o papel de Daniel Estulin e procurar desvendar os segredos obscuros do Clube Bilderberg e os seus verdadeiros objectivos nem relacioná-los com António José Seguro. Basta recorrer a fontes oficiais para perceber que estamos a falar de um grupo secreto composto por tudo menos boas companhias e com interesses dúbios.
O Clube Bilderberg é mais uma concentração da classe dominante mundial, tal como é o Fórum Mundial de Davos ou a Comissão Trilateral. A sua composição é formada por um comité eleito para quatros anos que escolhe um Chairman, neste caso Henri de Castries, Chairman e CEO do grupo AXA. No comité constam nomes de antigos ou actuais ocupantes de cargos políticos de relevância política ou com assento nas corporações mais poderosas do planeta de que são exemplo Jean-Claude Trichet, antigo presidente do Banco Central Europeu, ou Peter Sutherland, CEO da Goldman Sachs Internacional. Se a estes nomes somarmos os convidados presentes na lista do próximo encontro onde constam nomes como Durão Barroso, o já referido Paulo Portas, Paul M. Achleitner enquanto Presidente do Conselho de Supervisão do Deutsche Bank, J. Michael Evans que exerce o cargo de vice-presidente da Goldman Sachs & Co., ou Timothy Geitner, antigo Secretário do Tesouro americano, então percebemos que este viveiro internacional da finança e da economia não é o melhor espaço para falar do fim dos paraísos fiscais, da taxação sobre as transacções financeiras ou de uma Europa com uma dimensão política e económica mais virada para o crescimento e para o modelo social europeu. Estamos a falar de instituições envolvidas na crise do subprime, de responsáveis europeus apoiantes da austeridade cerrada e de um antigo responsável pelas finanças estadunidenses que não teve sequer a iniciativa de reformar seriamente Wall Street porque havia sido Presidente da Federal Reserve de Nova Iorque e teve quota parte de responsabilidade na bolha especulativa.
Estes são os senhores que vão debater temas relacionados com a criação de emprego, dívida e estratégias de crescimento para a Europa. As mesmas personalidades que destruíram inúmeros postos de trabalho, criaram a dívida privada exacerbada socorrida pelos Estados e a política que tem causado o empobrecimento e a miséria de milhões de pessoas. Se António José Seguro aceita reunir-se secretamente com um grupo afecto a esta estratégia opressora sem que partilhe essas informações com as pessoas que supostamente defende, então é conivente com o caminho europeu trilhado até hoje. É que esta elite não merece uma discussão ou uma reunião, merece, isso sim, um combate feroz.