Existe uma velha anedota anti-comunista que refere uma visita de Estaline a um Kolkoze da Rússia profunda. Aí, tudo programado ao milimetro, o líder soviético dá uma palestra sobre a revolução e o progresso do país através da importância das teorias marxistas da economia. No fim, pergunta retoricamente se alguém tem alguma pergunta. Contrariando toda a organização, uma senhora muito idosa pergunta se o comunismo fora inventado por um político ou por um cientista. Estaline responde que fora por um político, ao que a senhora responde: ‘Pois, foi o que eu pensei. É que se tivesse sido por um cientista tinha experimentado primeiro nos animais.’
As anedotas e os mitos anti-comunistas ou simplesmente anti-socialistas ou ainda anti-esquerdas, tem facilidade de tornar verdade aquilo que a razão recusaria. Mas é assim com muitas coisas que a direita populista introduziu, desde sempre, no discurso político apolitizado. Nas palavras de Alfredo Barroso, o grande lamaçal, chafurdado abundantemente pelos Carlos Abreu Amorins deste país.
O mais engraçado de tudo, e que é ao mesmo tempo trágico, é que a anedota acima descrita se poderia aplicar na íntrega e na perfeição ao momento económico actual em que vivemos. Já não por culpa de qualquer teoria marxista mas do liberalismo experimentalista encetado pela Tatcher e desenvolvido, entre nós, pelos cães roufenhos que latem a verborreia da ‘doença infantil do liberalismo’. Afinal são os liberais capitalistas que se comportam como crianças avarentas e egoistas, como se fossem meninos-soldados armados de poder legislativo, os mais perigosos dos seres já que desprovidos de qualquer formação moral e ética que os impeça de agir contra a humanidade, o próximo, o bem comum ou a sociedade, que aliás, recusam existir.
Mas, para dar uma ideia, aliás errada, de que não se tratam de experimentalismos, vem agora dizer que ‘foram cometidos erros na Grécia’, como se tivessem sido meros erros de cálculo de excel ou de análise económica, quando todos sabemos serem erros estruturantes de falta de formação individual, já que o capitalismo selvagem em que nos encontramos prevê exactamente aquilo que está a acontecer com a Grécia e com Portugal. Toda a economia deixada a si mesma é um anarco-capitalismo, já que num vazio regulador ou interventivo do Estado, substituem-se os poderes públicos pelos privados, que confundem pessoas com dinheiro comercializando as primeiras em detrimento da valorização dos segundos.