Estas sistemáticas crises políticas a que nos temos habituado nos últimos meses fazem sempre as delícias de comentadores políticos e demais ‘insiders’ da política. No entanto, na situação a que chegámos já só há uma análise política relevante a fazer.
A análise que se impõe com urgência já não se prende com questões ideológicas (que não podem ser esquecidas, evidentemente, mas já estamos em todo um outro patamar), nem programáticas, nem, muito menos, partidárias. A análise que tem de ser tida em conta e é já evidente é institucional, de Estado. O actual Governo da República não tem quaisquer condições para executar um programa político, qualquer programa político, e isso tem-se revelado evidente. Um país na maior crise económica que conheceu em décadas, na situação financeira mais difícil que alguma vez enfrentou e sob assistência financeira internacional não pode estar sujeito a um sistemático clima de ingovernabilidade. Não nos podemos dar ao luxo de, de três em três meses, ficar durante vários dias em suspenso para saber o que vai acontecer ao Governo e ao país, fruto das irresponsabilidades de todos os protagonistas políticos. Não é compreensível que os responsáveis políticos criem sistematicamente crises para as quais não se preocupam em encontrar soluções, evitando-as em vez de as promover. As negociações e legítimas lutas de poder dentro do executivo não se podem fazer na praça pública. Temos sido governados com uma absoluta e evidente incompetência que não é compatível com os sacrifícios pedidos aos Portugueses. A partir de hoje, o actual Governo da República não existe, e todos já o perceberam.
Neste momento só importa saber uma coisa: há ou não há condições, no actual quadro Parlamentar (e portanto respeitando as escolhas eleitorais para a actual legislatura), para haver um Governo estável e que consiga aplicar um programa político, qualquer programa político que obtenha apoio do actual Parlamento, com competência, responsabilidade e falando honesta e claramente ao país?
Se há, esse Governo tem de ser nomeado e o actual demitido. Se não há, tem de haver eleições. Na nossa actual situação, é assim tão simples.