Pela noite saberemos o desfecho da trama política mais tragicómica desde o alçar do cravo. Os mais atentos ainda procuram uma explicação para todo o processo que elevou o governo ao estatuto de cadáver adiado e procriador de mais austeridade depois da demissão de Paulo Portas. Alguns apontam para a paixão, uma episódica tensão que levou ao desequilíbrio do ego centrista. Outros referem o conatus, movimento vital na procura do poder. Na busca da manutenção e exercício do poder. Melhor, na busca do seu fortalecimento. A escolha da nova ministra foi a via encontrada para Passos não perder a sua ascendência sobre o ministério das finanças mas acabou por perdê-la. Não a ministra mas a sua preponderância. Agora é o líder do CDS-PP quem comanda verdadeiramente os destinos do país.
O novo vice-primeiro-ministro há muito que suja as mãos. Sabe farejar e sobreviver ao pior cataclismo. Não se trata, por isso, de uma fénix porque nunca renasceu. Ele faz melhor que isso. Ele domina o tempo e a acção, a fortuna e a virtus na condução do seu destino, não do país. Sabe abstrair-se do kantianismo quando o contexto o justifica sem nunca deixar de apelar à sua moral. Também se assume como católico sem servir a Igreja mas servindo-se dela. Os cidadãos são antropologicamente maus, restando-lhe utilizar as suas habilidades para subir hierarquicamente e conseguir a obediência dos seus aliados.
Não é um Princípe, é um princípe. Não pretende fazer uso dos meios para robustecer o Estado mas a sua pessoa.