Há um exacto ano atrás, iniciamos este projecto em memória do escritor Aquilino Ribeiro. O conjunto de textos que doravante publicaremos inicia um homenageante ciclo não alheio ao pai, cidadão e pedagogo que também Aquilino se revelou. Nos 128 anos do seu nascimento, o nosso singelo reconhecimento ao homem que nos impulsionou este espaço de oposição aos fascismos e medos.
Cultivar a inquietação como fonte de renovamento
Aquilino Ribeiro foi um homem de uma dimensão impar, que viveu arrebatadamente o seu tempo. Acalentando sempre um verdadeiro culto pela liberdade e uma inabalável confiança em que a igualdade é o caminho irreversível dos homens, fez da escrita o seu combate inconformado pelos mais fracos, o mundo humilde de onde nascera:
“Nunca soube o que era servidão aos preconceitos, às classes, nem mesmo ao gosto do público. Se pequei, pequei por conta própria, exclusivamente. Em todos os meus livros, se pode verificar mais ou menos esta rebeldia de carácter” (Aquilino Ribeiro).
Nascido no dia 13 de Setembro de 1885, em Carregal da Tabosa, concelho de Sernancelhe, este fascinante epicurista descreveu a sua geografia sentimental, as “Terras do Demo”, demonstrando sempre uma inspirada fidelidade às suas origens:
“Amenidade e avareza, a colina e o vale, a civilização e a selvajaria. À volta da aldeia em que ergui a minha barraca, no Inverno uivam os lobos ao desafio com o vento, Bela fanfarra! Na Primavera alteiam-se do solo, pelos caminhos trilhados, flores que a botânica dos sábios ainda não teve ocasião de descobrir” (Aquilino Ribeiro).
Venceu todas as adversidades de uma vida: o de ter nascido no seio de uma família modesta e ter conseguido saltar as barreiras de um certo determinismo atávico, o que o levou a conhecer outros mundos como poucos o conseguiram no seu tempo; o de ter fugido de todas as cadeias em que quiseram encerrá-lo; o de ter lutado com uma coragem indómita pela liberdade, batendo-se de armas ou não, quando tal foi preciso.
Espírito insubmisso até ao fim da sua vida, foi ainda em nome da Liberdade que, já na velhice, lutou para defender as vítimas dos tribunais fascistas. Observou o meu Pai, o maior de todos os aquilinianos, num tocante e belo texto: “modestamente reclamava-se apenas inconformista, que apontava como elementar dever de qualquer artista que se preza, tinha por matriz uma fidelidade que nunca traiu: - o mundo humilde de um partira”.
Em 1963, discursando, por ocasião das comemorações do 50º aniversário da sua vida literária, disse: “meus queridos camaradas, olhem sempre em frente, olhem para o sol, não tenham medo de errar sendo originais, iconoclastas, o mais anti que poderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do restelo. Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronze para juízes implicáveis julgarem à sua hora”.
Aquilino Ribeiro, filho de Joaquim Francisco Ribeiro e de Mariana Rosário Gomes, nasceu há 128 anos. A sua escrita continua viva e apontada para o futuro. Uma sombra tutelar para que nos devemos voltar, “cultivando a inquietação como fonte de renovamento”.
Aquilino de Oliveira Ribeiro Machado.