Sexta-feira, 13 de Setembro de 2013

     Há um exacto ano atrás, iniciamos este projecto em memória do escritor Aquilino Ribeiro. O conjunto de textos que doravante publicaremos inicia um homenageante ciclo não alheio ao pai, cidadão e pedagogo que também Aquilino se revelou. Nos 128 anos do seu nascimento, o nosso singelo reconhecimento ao homem que nos impulsionou este espaço de oposição aos fascismos e medos.

 

Cultivar a inquietação como fonte de renovamento

 

     Aquilino Ribeiro foi um homem de uma dimensão impar, que viveu arrebatadamente o seu tempo. Acalentando sempre um verdadeiro culto pela liberdade e uma inabalável confiança em que a igualdade é o caminho irreversível dos homens, fez da escrita o seu combate inconformado pelos mais fracos, o mundo humilde de onde nascera:

 

    “Nunca soube o que era servidão aos preconceitos, às classes, nem mesmo ao gosto do público. Se pequei, pequei por conta própria, exclusivamente. Em todos os meus livros, se pode verificar mais ou menos esta rebeldia de carácter” (Aquilino Ribeiro).

 

    Nascido no dia 13 de Setembro de 1885, em Carregal da Tabosa, concelho de Sernancelhe, este fascinante epicurista descreveu a sua geografia sentimental, as “Terras do Demo”, demonstrando sempre uma inspirada fidelidade às suas origens:

 

     “Amenidade e avareza, a colina e o vale, a civilização e a selvajaria. À volta da aldeia em que ergui a minha barraca, no Inverno uivam os lobos ao desafio com o vento, Bela fanfarra! Na Primavera alteiam-se do solo, pelos caminhos trilhados, flores que a botânica dos sábios ainda não teve ocasião de descobrir” (Aquilino Ribeiro).

 

     Venceu todas as adversidades de uma vida: o de ter nascido no seio de uma família modesta e ter conseguido saltar as barreiras de um certo determinismo atávico, o que o levou a conhecer outros mundos como poucos o conseguiram no seu tempo; o de ter fugido de todas as cadeias em que quiseram encerrá-lo; o de ter lutado com uma coragem indómita pela liberdade, batendo-se de armas ou não, quando tal foi preciso.

 

     Espírito insubmisso até ao fim da sua vida, foi ainda em nome da Liberdade que, já na velhice, lutou para defender as vítimas dos tribunais fascistas. Observou o meu Pai, o maior de todos os aquilinianos, num tocante e belo texto: “modestamente reclamava-se apenas inconformista, que apontava como elementar dever de qualquer artista que se preza, tinha por matriz uma fidelidade que nunca traiu: - o mundo humilde de um partira”.

 

     Em 1963, discursando, por ocasião das comemorações do 50º aniversário da sua vida literária, disse: “meus queridos camaradas, olhem sempre em frente, olhem para o sol, não tenham medo de errar sendo originais, iconoclastas, o mais anti que poderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do restelo. Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronze para juízes implicáveis julgarem à sua hora”.

 

     Aquilino Ribeiro, filho de Joaquim Francisco Ribeiro e de Mariana Rosário Gomes, nasceu há 128 anos. A sua escrita continua viva e apontada para o futuro. Uma sombra tutelar para que nos devemos voltar, “cultivando a inquietação como fonte de renovamento”.

 

     Aquilino de Oliveira Ribeiro Machado.

 



publicado por quandooslobosuivam às 00:04 | link do post | comentar

Catarina Castanheira

Fábio Serranito

Frederico Aleixo

Frederico Bessa Cardoso

Gabriel Carvalho

Gonçalo Clemente Silva

João Moreira de Campos

Pedro Silveira

Rui Moreira

posts recentes

Regresso ao Futuro

Entre 'o tudo e o nada' n...

Le Portugal a vol d'oisea...

Recentrar (e simplificar)...

Ser ou não ser legítimo, ...

O PS não deve aliar-se à ...

(Pelo menos) cinco (irrit...

Neon-liberais de pacotilh...

Piketty dá-nos em que pen...

Ideias de certa forma sub...

arquivos

Junho 2017

Janeiro 2016

Outubro 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012