O Governo, Passos Coelho e os seus ideólogos de mão já há muito tempo perceberam qual o seu maior obstáculo na cruzada pela implementação da sociedade desregulada e arbitrária, onde a injustiça tem carácter de lei. Esse obstáculo é a Constituição. Precisamente a lei que estabelece os princípios basilares em que se funda e organiza a sociedade portuguesa.
Passos Coelho percebeu bem qual era o obstáculo, pelo menos desde o momento em que chegou à liderança do PSD, e logo quis alterar a Constituição. Mais tarde, e por interposta pessoa ainda tentou que se falasse na extinção do Tribunal Constitucional, e consequente passagem a secção, mas como também percebeu que poucos estavam para aí virados, encontrou nova fórmula, a que chamou ‘o problema do país não está na Constituição, mas sim na interpretação e bom senso dos juízes do Tribunal Constitucional’.
Não vivêssemos numa sociedade em declínio moral (dos valores humanos) e crise de valores, e seriam evidentes os limites e riscos de atacar e por em causa esses mesmos pressupostos humanos e sociais fundamentais, com o pretexto das dificuldades do país. Ao contrário do que certa direita tentar fazer crer e como provam as decisões do Tribunal Constitucional, os chumbos incidem precisamente na salvaguarda desses direitos fundamentais.
A ideia subjacente é sempre mesma, e fácil de compreender: subtrair direitos e proteção aos trabalhadores, e assim alterar o enquadramento e a relação de forças e classes na sociedade. Desengane-se quem pensa que a luta de classes já não existe. Desenganem-se as classes mais baixas, se creem que estão a salvo do espírito do capitalismo.