Eu desconfio sempre da postura moralista na política. Não sigo o aristotelismo e não acredito que o fim da política seja a liberdade ou a felicidade humanas. Quanto muito será sempre uma liberdade contingente e limitada pelos interesses de uma entidade denominada de Estado. A verdadeira liberdade chegará com a supressão de classes e interesses colectivos antagónicos. Com o fim da política entendida nos termos do paradigma dominante na sua ciência. Até lá, todos temos de sujar as mãos. Umas mais imundas que outras.
Talvez por isso não goste muito de discutir rosas e papoilas. Prefiro cingir-me à matéria objectivamente existente. Não me revejo no completo relativismo dos conceitos de liberdade e esquerda, assim como numa falácia anti-partidária ou apartidária em forma de partido. O que não falta na história são disparidades entre o ideal e o terreno.
Não acredito na defesa do europeísmo a toda a prova. Um europeísmo que nas suas bases está já minado pela desigualdade de relações entre os povos, pela liberalização económica e hierarquia de potências. Por mais voltas que se dê ao argumentário, se Rui Tavares critica a política europeia de forma estrutural, não se percebe porque transitou do GUE/NGL para Os Verdes. Um grupo parlamentar europeu que apoiou o constitucionalismo europeu nos seus moldes actuais, como ficou provado com o suporte dado em relação ao projecto constitucional europeu ou mesmo em relação ao Tratado Orçamental. Para não falar na conivência perante a intervenção da NATO. Onde está a solidariedade entre povos? Não acredito em processos de democratização política que não sejam antecedidos de uma alteração nas relações de produção.
Mas as interrogações prosseguem. Pergunto-me sobre o meio da esquerda. Será o espaço a ocupar entre o PS e o BE? E já alguém se indagou se a esquerda precisa desse espaço ocupado por um partido que se disponha a coligações com o arco da governabilidade? Um género de DIMAR na Grécia e Os Verdes na Alemanha, mesmo que a experiência tenha trazido os seus dissabores? Não deveriam antes os militantes do PS reflectir sobre o percurso da social-democracia e buscar uma mudança interna, tendo em conta os resultado da Terceira Via? Não quero apressar julgamentos, mas a existência de uma muleta pós-eleitoral não me parece contribuir devidamente para um processo de transformação à esquerda.
Assim sendo, preparo-me para mais uma tentativa de medicação paternalista prescrita de acordo com sintomas, ao invés de um diagnóstico da verdadeira patologia social. Continua-se a tratar o socialismo como uma flor, quando este se trata de uma raiz.