Há muito de esquizofrénico e de desrespeitoso até, neste debate da ida de Eusébio para o Panteão Nacional, tendo em conta a forma como foi agendada a discussão para a reunião da conferência de líderes da Assembleia da República, na disputa de quem sugere primeiro, não fosse qualquer dos partidos cair nas más graças do povo. Claro está, nenhum partido recusou e todos concordam na ida para o Panteão.
Tal discussão seria sempre mediática, esquizofrénica é que talvez não, caso a lei que rege o ato de atribuição de honras de Panteão fosse a anterior a 2001, que previa um período mínimo de 5 anos desde a morte de determinada personalidade até à entrada do processo de discussão na Assembleia da República, precisamente o tempo necessário para esfriar os ânimos das emoções, do imediatismo, do mediatismo doentio e dos aproveitamentos políticos e de outras ordens, que desta vez fizeram os abutres sobrevoar o Palácio de Belém, o Palácio e o Palacete de São Bento.
Numa comunidade que se revê em determinados valores culturais e humanos, a atribuição de honras superiores a quem os corporiza não pode estar sujeita a humores, paixões clubísticas ou questões do momento, essas são condição das comunidades decadentes. Aristides de Sousa Mendes, por exemplo deveria lá estar; devíamos discutir o sentido da atribuição dessas honras a Francisco Sá Carneiro, entre outros, alguns poucos. Duma coisa estou certo, com o devido respeito e salvaguardando Eusébio, não quero ver o Panteão Nacional ocupado por futebolistas e concorrentes da Casa dos Segredos, ou de Leopoldo de «Para Roma com Amor», interpretado por Roberto Benigni, um homem comum confundido por acaso com uma estrela de cinema, e tornado extremamente popular enquanto não é substituído por outra estrela.