"A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele, poderosa como a voz do mar, como a voz do vento, tão poderosa como uma voz sem comparação. Como a voz de um negro que canta num saveiro o samba que Boa-Vida fez:
Companheiros, chegou a hora...
A voz chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres.Uma voz que atravessa a cidade(...) Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde vão os condutores e motorneiros grevistas(...) Uma voz que vem do cais, do peito dos estivadores, de seu pai morrendo num comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros(...) Uma voz que vem de todos os pobres, do peito de todos os pobres. Uma voz que diz uma palavra bonita de solidariedade, de amizade: companheiros. Uma voz que convida para a festa da luta(...) Voz poderosa como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem excepção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta(...) Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a liberdade(...) Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala."
* Jorge Amado in "Capitães da Areia".