Quinta-feira, 4 de Outubro de 2012

A República é o momento constituinte das nossas opções ideológicas. A República, em si, não é mais do que o lugar onde os cidadãos se encontram para discutir, pensar e decidir o futuro da cidade. Da cidade enquanto colectivo, enquanto aspiração e inspiração. A República pode ser, e é, um momento poético, que resulta de um radical etimológico partilhado entre polis e poesis, cidade e poesia enquanto momento criador, no original grego dos termos.

 

As crises que assolam as sociedades contemporâneas, sendo económicas, são também, et pour cause, políticas, societárias, culturais e, logicamente, morais. Recuperar o sentido da defesa do serviço da causa pública enquanto acto voluntário e livre e descomprometido obriga-nos a regressar à origem dos actos e das palavras, como modo de recuperar o que é ainda puro, criador, originário e imaculado dos vícios humanos mas pouco humanizadores em que as coisas caíram nos últimos anos ou, radicalmente, desde Auschwitz. Não é por acaso que Theodor Adorno dizia que depois dos campos de concentração não podia haver mais poesia. Sendo uma posição radical com que não concordo, não podemos esquecer a capacidade de regeneração dos individuos e das sociedades, como acto de vontade supremo de onde resurge, cicliamente, a necessidade de reconstruir ou construir sempre de novo uma sociedade melhor, a melhor República.

 

A República não é pois uma Utopia. É quotidiano, é lugar, tempo e modo. Da mesma maneira, a República é e concretiza-se, como dasein, com debate e discussão em que a nossa primeira ambição deve ser a desconstrucção do discurso anti-republicano, que não tem que ser e raramente é o monarquico, mas antes o falacioso, o sofista, o demagógico e o dos que o usam contra a cidadania.

 

Não é preciso um considerar-se republicano para defender a República. Onde está um comportamento integro, honesto e vertical, está a República, e essa deve ser a nossa preocupação enquanto cidadãos empenhados e comprometidos com a construcção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais igual. Por que quando o resto nos faltar, teremos sempre a consciência segura de tudo termos feito para honrar aquilo em que mais acreditamos.



publicado por José António Borges às 01:07 | link do post | comentar

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