Tive o prazer de ouvir há alguns dias atrás na Biblioteca de Serralves, no Porto, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio. Não sendo esta uma nota bibliográfica, é apenas minha intenção sublinhar algumas partes da conversa.
O momento prolongou-se por duas horas nada cansativas. Foi interessante compreender todo um percurso de vida baseado numa educação muito singular, num sacrifício familiar inacreditável e numa postura ética política e profissional notável que, infelizmente, escasseia. A narrativa deste homem é, certamente, um exemplo para todos e aconselho a leitura da biografia do próprio. Contudo, não é a humanidade de Jorge Sampaio que pretendo exaltar. Muitas vezes somos mais pequenos que o nosso discurso e, naturalmente, não reza este texto sobre um homem sem mácula. Antes pretendo sublinhar o que o mesmo afirmou sobre o Orçamento Geral do Estado para 2013. "A Contituição da República Portuguesa como o garante de um consenso mínimo que permitiu, nas últimas décadas, a unidade do país e a manutenção de um contrato social universal", referiu. Na avaliação da proposta deste Orçamento confiscatório, Sampaio concluiu afirmando que "não podem ultrapassados os limites da dignidade". Na ausência de um Presidente da República que actue, são estas as palavras que me completam perante o abismo anunciado pelo Governo. Não estamos separados da Grécia por um ano, estamos à distância de um dia. Quem nos governa esqueceu a presidência da República e esta faz-se esquecer na assunção de responsabilidades. Cavaco Silva abdicou da bigorna com que moldou o juramento de defesa da Constituição e, perante a sua imobilidade e imoralidade, faz cada vez mais sentido ter saudades de Jorge Sampaio.