Muito se tem falado de intelectualidade por estes dias. Mais propriamente de intelectuais, como se eles fizessem os nossos dias, como se preenchessem todo aquele espaço do pensar, como se houvesse no nosso país um espaço considerável destes no seio das elites, como se essas elites fossem vistas enquanto perspetiva positivista do entendimento da sociedade que aspira à ascensão de todos os seus elementos às caraterísticas desse grupo e enquanto perspectiva de uma elite constituída pelos elementos de uma sociedade com um elevado grau de conhecimento, de reflexão, de cultura e de envolvimento e participação cívica, e contrariamente à perspetiva da elite constituída por endinheirados, crente que o seu grande contributo é a exibição e o seu contributo cívico, o compromisso de gerar dinheiro, seja por que via for, ou ainda constituída pelos bem pensantes, divinamente iluminados para a pesada tarefa de iluminar os caminhos da nação.
Infelizmente vêem-se poucos intelectuais. Uns abdicam de pensar, mesmo em atividades tão reflexivas como a política, por exemplo; outros ocupam o espaço da reflexão pela promoção individual. Claro que vão tendo leitores e observadores (mea culpa e expiação), e o dia a dia procura o inevitável entretenimento. Mas daí a chamar a alguns, intelectuais?!
Vem isto a propósito da referida saída do armário daqueles a que chamam os intelectuais de direita. Segundo artigos muito industriosos, a repressão a que foram sujeitos durante 40 anos, às mãos de uma esquerda hegemónica e quase autoritária acabou. Agora sentem-se livres de dizer o que pensam e o que querem, e de participar ativamente, porque, dizem esses mesmos artigos, são atualmente adversários à altura. Tais artigos dão até exemplos desses intelectuais: Henrique Raposo, por exemplo. Fica à vista a noção de intelectualidade, que fará de um qualquer camilo lourenço, um escritor de livros ou de um indivíduo de oralidade diletante um brilhante intelectual da sua geração.
Alguns intelectuais de direita não estavam nos armários, ficaram nas gavetas.