1. O início da verdadeira Democracia Europeia?
Sob o estigma da irrelevância, os Europeus começam hoje a eleger a composição do futuro Parlamento Europeu. Arredados por decreto das principais decisões, muitos foram aqueles que, ao longo dos últimos tempos, canalizaram as suas esperanças para este momento. Um momento em que poderiam legitimar um novo rumo para a União. Um momento em que, pela primeira vez, estariam a escolher, ainda que de forma indirecta, o futuro Presidente da Comissão Europeia.
E se tal não acontecesse? Se a União continuasse a ser um projecto que equipara a importância do homem à dos capitais e à das mercadorias? Se o voto dos eleitores não fosse mais do que um mero formalismo, pouco significativo para os acordos já estabelecidos entre a CDU de Angela Merkel e o SPD de Sigmar Gabriel e Martin Schulz? E se o futuro Presidente da Comissão Europeia acabasse por não ser nenhum dos candidatos apresentados?
As respostas afirmativas a estas questões representam o maior risco que o projecto Europeu corre neste sufrágio. O risco deste ser mais um acto, em que se acentua o distanciamento entre os cidadãos e os organismos Europeus. E, por conseguinte, mais um passo falhado na construção de uma verdadeira Democracia Europeia.
Desta feita, existe um perigo iminente assente no facto deste momento, que é fundamental para o aprofundamento da integração Europeia, poder resultar num aumento significativo do eurocepticismo.
2. O Eurocepticismo e os Nacionalismos
Nem por acaso, o tiro de partida deste acto é dado por Britânicos e Holandeses. No caso do Reino Unido, embora o UKIP possa não ganhar as eleições (as sondagens demonstram grande incerteza quanto ao vencedor), a verdade é que este partido eurocéptico alcançará um resultado histórico. Num partido tão pouco enraizado na sociedade e com um défice de organização considerável, só a descrença no projecto Europeu justifica um apoio massivo.
Já no caso Holandês, o desfecho parece de previsão mais acessível, com o partido liberal Democrats 66 a assumir-se como favorito. A vitória considerável que a Direita alcançará terá no Party for Freedom um pilar importante. Este membro da European Alliance for Freedom (partido Europeu onde se integra a Front National de Marine Le Pen) é referido nas sondagens como tendo hipóteses de ser o segundo partido mais votado.
O recrudescimento dos nacionalismos é latente e poderá, neste acto eleitoral, seguir o seu caminho ascendente. Regrediu-se ao tempo em que alguém podia considerar a disseminação da ébola como uma solução, sem que tal fosse contestado de forma veemente.
3. A Conclusão
A única resposta possível não estará numa Europa construída, não nas costas, mas de forma participada pelos seus cidadãos? Sem acordos prévios e respeitadora da vontade dos eleitores? Não será este o momento fulcral para a rejeição de soluções de carácter extremista? Não será este o momento crucial para, por fim, se cumprir o sonho Europeu?