Em tempos deu gosto ouvir Assunção Esteves falar da "liberdade que se faz instituição", discorrer sobre a razão das instituições, o pensamento da luzes. Ouvir, em tempos, falar de luzes e de razão provocou algum contentamento, quando pensar e filosofar é uma necessidade urgente, ainda mais quando sobretudo a razão vai rareando. Por estes dias perde-se a razão, talvez pela excessiva reflexão do sentido de liberdade e da Democracia. Talvez Assunção Esteves, a Presidente da Assembleia da República, que recusou a intervenção da Associação 25 de Abril nas comemorações (ou evocações como alguns vêm tratando) do Dia da Liberdade, venha refletindo sobre estes assuntos nos últimos dias, e esteja esgotada com tanto reflexão, e em três ou quatro palavras perca a razão.
Pode parecer anacrónico, mas vai restando pouco de Abril, seja na Democracia social apoucada e cortada, seja em decorrência desta, na Democracia política, ou no comportamento dos nossos representantes governamentais que exigem que louvemos a possibilidade de podermos pensar e expressar, como fez Barreto Xavier, Secretário de Estado da Cultura, na entrega do prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Vai restando pouco de Abril. Entre uma ou outra personalidade, um ou outro minguado direito, resta-nos a memória viva de Abril, de quem o fez; resta-nos o ponto de ordem dos militares de Abril; resta-nos a representação da consciência do passado, dando a palavra para o futuro, e que agora não toma a palavra.
Não é um problema deles, dr.ª Assunção Esteves, é um problema nosso, da comunidade, e também seu, que foi eleita, e assim tão mal nos representa.