A novilíngua que sub-repticiamente se tem apoderado do discurso vigente alicerça-se, tantas e tantas vezes, em mitos e conceitos pouco credíveis. As crenças de poucos tornam-se os dogmas de muitos. Questioná-los, nem sempre é fácil e pode até tornar-se uma experiência perigosa. E assim, qual vórtice, é a lógica dominante que tudo suga, criando a espuma dos nossos dias.
Distante dos uivos há já algum tempo, decidi regressar à alcateia vociferando o que não me pertence. Através de vozes sapientes, trago uivos que se assumem como abordagens alternativas à realidade imediata. Surge, então, este ciclo curto de ideias de certa forma subversivas, o qual se inicia com uma das visões que mais tem inquietado o campo da economia, a de Thomas Piketty.
“To put it bluntly, the discipline of economics has yet to get over its childish passion for mathematics and for purely theoretical and often highly ideological speculation, at the expense of historical research and collaboration with the other social sciences. Economists are all too often preoccupied with petty mathematical problems of interest only to themselves. This obsession with mathematics is an easy way of acquiring the appearance of scientificity without having to answer the far more complex questions posed by the world we live in.” (Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, 2014:32)
Neste caso, Thomas Piketty reflecte sobre o apego excessivo dos economistas a modelos matemático-dedutivos, assim como realça a escassez de abordagens interdisciplinares que conjuguem a economia e outras ciências sociais. Por conseguinte, a capacidade que as ciências económicas têm para responder a questões complexas é limitada. Este uivo remete-nos, de certa forma, para a ideia tão actual da economia como entidade sacrossanta. A economia acima de tudo, com capacidade para explicar qualquer dimensão da realidade. Realidade em que tudo possui um valor exacto, em que tudo é mensurável. Até a vida.