Com o anúncio do aumento do salário mínimo começou oficialmente a campanha eleitoral do PSD para as próximas eleições legislativas. O PSD ainda não sabe, fruto das recentes (ainda que expectáveis) revelações sobre Pedro passo Coelho e o seu passado, quem vai ser o seu candidato (a substituição do desgastado PM enquanto candidato até pode ser boa), mas está apostado em tentar o seu melhor. Torna-se claro aquilo que António Costa afirmou ontem: o ano difícil para a oposição é este que falta até às próximas eleições.
Sabemos que com o aproximar de eleições a pressão para a realização de medidas populares aumenta e isso pode até nem ser mau. Se não se apostar em demagogia e populismos (como Seguro com a redução do número de Deputados), a pressão eleitoral até pode ser boa, principalmente na actual circunstância, se obrigar a uma alteração do rumo ruinoso que o governo tem seguido. Acontece que o rumo não se alterou.
Para sermos claros, aquilo que foi decidido é pôr a Segurança Social a financiar (pelo menos em parte, não sendo ainda claro que não seja na totalidade ou até em excesso) este aumento do salário mínimo. Argumenta-se de que as empresas não teriam dinheiro para um aumento do salário mínimo, mas essa estória só engana quem não estiver atento ao que se está a passar na economia: entre o início da crise financeira de 2007/2008 e o final de 2013 a Crise tirou 3,6 mil milhões aos salários e deu 2,6 mil milhões ao capital.
Sem grande espanto, uma vez que esta iniciativa vem do governo mais à direita da democracia portuguesa, este aumento do salário mínimo não resulta de uma melhor distribuição da riqueza que confira uma maior parte aos trabalhadores (de mais baixos salários), nem sequer tentando voltar à repartição de rendimento anterior à crise. Em vez disso trata-se de pôr em causa a sustentabilidade da Segurança Social para dar um empurrão à economia em ano de eleições. Trata-se de pôr a Segurança Social a financiar o aumento da procura interna de que o capital, assim sendo, será o maior beneficiário.
Aquilo que os trabalhadores agora ganharem a mais vão pagar no futuro em pensões mais baixas e, de caminho, ajuda-se a que a direita venha de aqui por uns anos defender que a Segurança Social Pública não é sustentável. Isto não é uma alteração de política, é a confirmação de um programa político de destruição do Estado Social (atacado no seu financiamento) e de redistribuição de rendimento a favor do capital.
A propósito disto vale muito a pena ler este texto no Ladrões de Bicicletas.