Não, não me refiro à esquizofrenia dos neoliberais que acham que faz imenso sentido uma empresa financeira em dificuldades ser protegida dos credores para se salvar de uma bancarrota provocada por gestão criminosa, mas acham inaceitável uma protecção do Estado em relação aos seus credores para se salvar de uma austeridade resultante de uma crise causada pela banca. Sobre isso falei no final do texto anterior.
Também não me refiro à solução banco bom/banco mau encontrada, à imagem do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, esse assunto já foi analisado (e satirizado) à exaustão.
A esquizofrenia de que falo é o resultado aparente da minha opinião sobre todo este caso do BES (aqui e aqui): concordo com a solução encontrada, embora concorde também com as críticas feitas pela maioria dos que criticam essa mesma solução (este é o mais recente exemplo); discordo das justificações dadas por aqueles que, sendo responsáveis pela mesma solução que eu acho boa, se portaram de forma inaceitável em todo o processo até chegar aí, provavelmente contribuindo para causar o problema que agora tentam resolver.
Confuso? Sim!
Esquizofrénico? Acho que não.
Simplesmente, nenhum dos críticos da actuação do Governo, entidades europeias e reguladores, que muito mal estiveram neste processo, consegue propor (que eu conheça), uma vez chegados a este ponto, uma solução melhor.
Por outro lado, aqueles que acabaram por solucionar da forma menos má este problema não têm qualquer justificação para a sua incúria e, à excepção dos responsáveis pela gestão danosa, são, por acção ou amissão, provavelmente os maiores culpados pelo estado a que o BES chegou.
A lição a retirar é: qualquer solução para resgatar um banco é má e será sempre má, mas inevitável, e esta parece-me das menos más; aquilo que deve, portanto, concentrar a nossa atenção e os nossos esforços é evitar que se chegue a essa situação, para isso precisamos de alterar a relação entre o Estado e os mercados, principalmente os financeiros, dando mais poder ao primeiro para regular (ou mesmo controlar) os segundos. Isso é que é o fundamental e nisso (também) acho que concordo com os críticos da solução que defendo.
O pior que nos poderia acontecer seria, como já é habitual, ficarmos meses a discutir aquilo que já está decidido e para o qual ninguém tem alternativa, atirando culpas de uns para os outros, sem resolver nenhuma das condições estruturais (porque o são) que criaram este problema.