(Fotografia: Adriano Miranda/Público)
Aníbal Cavaco Silva tem feito do apelo ao consenso uma espécie de reza pessoal diária. Toda a ocasião lhe tem parecido apropriada para expor esta sua doutrina de perversão da ideia de Democracia, de afastamento do confronto de ideias, de negação da pluralidade. Caminhará algo próxima de um Fukuyama e de o “fim da História” de que o próprio já se arrependeu de, um dia, ter decretado. Nada disto, porém, é novo em Cavaco, já lhe conhecíamos frases modelares do pensamento como a que resulta da imagética de duas pessoas sérias que, com a mesma informação, chegam necessariamente a conclusões semelhantes. Num mundo híbrido e sem valores seria assim. A realidade desmente estas ficções e fixações.
O Presidente da República, que deveria procurar ser de todos os Portugueses, não se liberta do seu pequeno mundo e da sua mundividência. No prefácio do mais recente dos seus “Roteiros”, nova prece. Dias depois de vir a público esse prefácio surge um Manifesto transversal na sociedade Portuguesa, et voilá o tão almejado consenso, da Esquerda à Direita, do movimento sindical ao empresarial, todos se revêm num denominador comum, reestruturar a dívida para crescer sustentadamente. Cavaco não defrauda os seus pergaminhos, ignora o manifesto e dois signatários desse Manifesto que integravam o grupo dos seus conselheiros da Casa Civil foram exonerados dessas funções no dia da apresentação do Manifesto. Este consenso, com senso, abarca uma amostra significativa da sociedade portuguesa, mas não serve a Cavaco. Tal como o Estado estava para Luís XIV, para Cavaco “O consenso sou eu”.