Sábado, 10 de Outubro de 2015

- Quem teve mais votos foi a coligação PSD/CDS. É verdade, e isso garantiu-lhes a precedência na tentativa de constituir governo. Mas, obviamente, não lhes garante por si só o direito de formar governo. Tem existido uma enorme confusão entre aquela que é a prática e tradição política em Portugal e a reconhecida flexibilidade da Constituição. Ou seja, uma coisa é verificarmos que nunca existiu um partido ou coligação mais votado que não tivesse constituído governo, outra coisa é julgarmos que, por esse motivo, tal é inconstitucional. Por outro lado, muitos argumentam que, mesmo que seja possível, tal é ilegítimo. Ora o sistema eleitoral português é proporcional, o que significa desde logo, como lembrava Stuart Mill, que visa a prevalência da justiça eleitoral sobre a eficácia governativa e que esta deve ser buscada através de uma partilha de poder mais abrangente, que é como quem diz, através de coligações pós-eleitorais.

 

- Historicamente, o PS afirmou-se contra o PCP. É um facto histórico mas parece-me um fraco argumento para inviabilizar qualquer negociação, já que as circunstâncias eram a todos os níveis muitíssimo diferentes. É o mesmo tipo de argumento utilizado para criticar Durão Barroso por ter sido aos 20 anos do MRPP e mais tarde do PSD. Como se decidir o alinhamento partidário em 1975 fosse igual a decidir em 1985 e como se aquilo que pensamos aos 20 anos exigisse a coerência de uma vida.

 

- O PS perderá para sempre os eleitores de centro. Acenar com a radicalização do PS é prosseguir a campanha de medo em período pós-eleitoral. Mas alguém pode seriamente achar que, a existir qualquer tipo de acordo com os partidos à sua esquerda, o PS governaria de modo radical? Uma negociação implica cedências e o PS sozinho não seria igual ao PS acompanhado de PCP e BE mas daí a vislumbrar-se um governo do PS a implementar as medidas mais radicais daqueles partidos é simplesmente uma ilusão conveniente. Por outro lado, os grandes sábios que por estes dias se têm entretido a interpretar o que queriam os portugueses quando votaram acham mesmo que quem votou PS pesou mais o “factor europeu” do que o “factor alternativa”? Independentemente da resposta – até porque acho o exercício de interpretação esdrúxulo – o meu ponto é este: tanto num caso como noutro nada inviabiliza, per se, a moderação do PS.

 

- O PCP e o BE podem estar a fazer bluff. Não obstante a dúvida ser absolutamente legítima, ela não passa de uma dúvida. Para além disso, pode existir tanto do lado do PS como do PCP e BE já que é tão verdade que estes partidos podem estar a aproveitar para definir o campo de oposição dos próximos anos através do enfraquecimento do PS como é verdade que o PS possa estar a negociar à esquerda para ganhar poder negocial à direita. No entanto, parece-me muito mais prejudicial deixar de negociar com medo de um eventual bluff da outra parte do que sofrer as consequências da sua concretização. A primeira é uma derrota por falta de comparência, a segunda é uma derrota honrada. A diferença é que só a segunda permite a possibilidade de vitória.

 

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'La clef des champs'. René Magritte (1936).

 



publicado por Pedro Silveira às 12:58 | link do post | comentar

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