A realidade continua a escapar à lente dos analistas encartados. Falam sobre o manifesto do Labour como se de um manual da década de 1970 se tratasse. Profetizam um regresso ao passado, mesmo quando são os jovens que, massivamente, se deixam seduzir por aquelas propostas. Tal como já havia acontecido com Bernie Sanders, aquando das primárias democratas nos Estados Unidos. Tratam-nos como Marty's McFly, dizem que estão sedentos por voltar atrás no tempo. Não percebem que, tal como no filme de Robert Zemeckis, é no futuro que estes jovens querem estar. Não o percebem porque ainda não compreenderam de que se tratará o futuro.
Fonte: adaptado de Desigualdade - O que fazer? (Atkinson, 2015)
A imagem acima apresentada retrata a evolução da desigualdade de rendimento e da pobreza no Reino Unido, desde a década de 1950. Em relação à desigualdade de rendimento, o que se observa desde a década de 1980 é um aumento exponencial. Em 2012, não só a disparidade entre o que ganhavam os 10% mais ricos e o que ganhavam os 10% mais pobres era superior, comparativamente ao que acontecia em 1980, como havia uma percentagem maior do rendimento que se destinava aos que mais auferiam (o afamado 1% do topo). Em termos de distribuição global do rendimento disponível, a situação era semelhante, como se pode observar pela evolução do coeficiente de Gini. Apenas a percentagem de pessoas que vivem abaixo da linha oficial da pobreza começou a diminuir desde a década de 1990. Registando, ainda assim, valores superiores aos observados no início da década de 1980. Se o regresso que temem é a uma sociedade menos desigual, então só se enganam no enquadramento temporal que fazem. O que está em causa não se trata de um discurso antiquado ou de qualquer esquizofrenia saudosista. O que está em causa é uma das lutas do futuro, é tão simplesmente o progresso.
E, no final do dia, será isto que importará na altura de votar. For the many, not the few!